Multimodalidades da fala e da escrita
Prof. Ms. Neilton Farias Lins
O uso da linguagem demanda
ações praticadas de formas individuais ou mesmo sociais, essa prática se dá por
manifestações sócio discursivas, as quais, são realizadas em um gênero textual,
seja ele escrito ou oral. Nesse aspecto, é necessário que se concorde com o que
defende (BAZERMAN, 1997, p. 9), gêneros
“não são apenas formas”, mas “quadros de ações sociais”.
Quando alguém interage de
forma falada, na sua mais simples forma (conversação) ou nas mais complexas, mediadas
por recursos da tecnologia (bate-papo virtual, celular, redes sociais, dentre
outros), está submerso num diálogo multimodal. Ao se ler um texto escrito á
mão, texto impresso, ou em um computador, diante destas situações o sujeito
estará envolvido em diálogo multimodal. Isso leva a inferir que os gêneros
falados e escritos são multimodais, porque quando se fala ou se escreve um
texto, é usado, pelo menos, duas maneiras para essa ação: palavras e gestos,
palavras e entonações, palavras e imagens, palavras e tipografia, palavras e
sorrisos, palavras e animações, etc. Nessa perspectiva, é possível inferir que
a multimodalidade dialógica é um traço constitutivo a todos os gêneros textuais
escritos e orais.
Até muito tempo, achou-se
que a fala e a escrita eram consideradas modalidades da língua com
características próprias e restritas em sua forma de realização, que tais
modalidades não poderiam se apresentar de muitas maneiras, ou melhor, a língua
se dava na escrita de uma única forma, como no livro ou revista, a fala apenas
na sua forma primitiva a conversação.
Entretanto, Linguística
tem mostrado que ao falar, é usado não apenas a voz como também o corpo, além
disso, também entra em uso no momento da interação, segundo Kerbrat-Orecchioni
(2006, p. 39) elementos
tais como os paraverbais,
não verbais, a
tonalidade da voz que pode sinalizar uma pergunta, uma reclamação, um elogio,
uma crítica, por exemplo.
Uma filha chega para mãe,
vestida de uma roupa que acaba de comprar e pergunta se ela gostou, imediatamente
a genitora abre um sorriso um tanto sarcástico e responde que sim. No entendimento da filha, duas
possibilidades poderá tirar como resposta. Digamos que baseado na afirmativa da
mãe, use o sim como resposta, se, no
entanto, a filha observar os não verbais da mãe, verá que houve uma ironia, o
que ela quis dizer, disse não com palavras, mas com os não verbais. Baseado
nesse principio é possível inferir a fala é multimodal, pois sua realização se
dá não apenas por meio de recursos verbais, mas através de paraverbais e não
verbais. No exemplo citado foi usado dois modos de construção das informações
envolvidas no ato de fala.
Na realização de
enunciados falados, expressões faciais, determinados timbres de voz, o olhar, o
riso, uma gesticulação com a cabeça, ajuda de forma contundente para construção
do sentido do linguístico do que é dito, mais ainda, substitui um enunciado da
língua nas conversações ou processo interacional face a face. Daí, é necessário
afirmar que as conversas espontâneas construídas no dia-dia estão abarrotadas
do misto do verbal e do não verbal.
Considere o exemplo:
(1)Transcrição 02[1]
L1 – belo discurso seu! quer dizer enTÃO::: que tu ((L1aponta para L2)), vai descer do alto?
sentar no trono. colocar suas mãos puras e santas nos meus::((L1 bate no peito como um forma de
demonstração de poder sobre aquelas pessoas)) cachorrinhos sujos, É:::?
L2 –
se for preciso sim, porque ainda há santos na minha presença, dispostos a me
honrar, me adorar, me servir. ((L2 aponta para L1)) agora seus SERvos satanás
são todos movidos pelo prazer.
L1 – então vai, ((gesticula
com se estivesse expulsando L2)) usa teus servos em vão, porque o inferno
para onde muitos vão ((L1 aponta para a
plateia como se estivesse envolvendo a mesma na peça e as predestinando ao inferno))
é muito pior.
L1 –
vamos brincar?
L1- eu
vou brincar de te acusar, ((L1 aponta para L2, mostrando que é ele que será
acusado)) mostrarei o seu pecado de estimação:::((L1 pisa no chão com violência
como forma de insulto)) aqui em cima ou quer dizer que vocês também não tem
pecado.
L1 – e
vocês ((aponta para plateia)) querem brincar ou não?
Os elementos não verbais
estão nessa transcrição apresentados dentro de dois parênteses duplos, o que
para regra de transcrição da fala se dão quando o documentador faz um
comentário que não pode ser do texto falado, mas trata-se de não verbais ou
paralinguísticos, no primeiro turno dessa transcrição, o documentador tenta
informar o que ouve, e no caso, ele diz que L1 usa o dedo apontando para L2
como se tentasse mostrar com quem falava, além disso, L2 também queria que L1
soubesse sua fala se referia a ele. Já no segundo comentário desse turno, L1
usa as próprias mãos para mostrar para seu interlocutor que os cachorrinhos a que ele se referia em seu
turno eram propriedades dele.
No terceiro turno, que se
tratar do segundo turno de L1, o esse usa as mãos, gesticulando de forma que L2
compreendesse que deveria sair dali, segundo o comando de L1, assim como
também, estivesse dizendo a L2 que quem mandava ali era L1, no segundo comentário
desse turno, L1 gesticula tentando de certa forma envolver a plateia em seu
discurso, dando-lhe uma alerta de que essa seria a condição de todos os quais
viessem se envolver com a mesma situação a que se encontravam as personagens da
peça teatral. Os elementos não verbais e paralinguísticos tendem a seguir os
elementos verbais nos textos falados, os quais podem ser reformulações do
gênero escrito, os quais se dão, por exemplo, nos textos escritos de peças
teatrais e roteiros de filmes, como se vê no fragmento apresentado
anteriormente.
A grande maioria dos os gêneros textuais escritos são
multimodais, mas há de convir, que nem todos os gêneros visuais são
multimodais. Considere as fotos:
O pôster (imagem 02) de
Barack Obama é multimodal, entretanto como, a foto (Imagem 01) do Presidente
não é multimodal, uma vez que a referida foto tem apenas uma leitura, não
possui outros elementos constitutivos da língua nessa foto. Entretanto, o
pôster em que Barack
Obama se dirige a alguém, apontando o dedo, como se olhasse
nos olhos de seus interlocutores, tem uma força muito grande, isso é
perceptível pelos reforços de elementos postos, não apenas na escrita que diz: SOCIALISTA: falando do dinheiro dos outros
ganhos de forma dura e ao fato de dar esse dinheiro aos empreendedores inferiores, mas
também nos gesto de apontar, se dirigindo diretamente ao seu interlocutor, além
disso, o olhar fixo no interlocutor.[2]
Nessa
perspectiva, infere-se que a essas duas modalidades da língua possuem outras
modalidades, e seria inútil querer reduzir a analise da fala e a escrita
levando em consideração critérios descontextualizado de seus usos.
[1] A análise semiótica das fotos aqui surge na expectativa de
demonstrar apenas que nem todos os gêneros visuais se constitui multimodal.
[2] Retirado
da Segunda Transcrição de uma peça teatral, o qual é elemento de análise da minha Dissertação de Mestrado intitulada "O processo de oralização de um texto escrito - UFAL".
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Obrigado pelo comentário, tentarei interagir na medida do possível.