CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL
Saussure, no capítulo III - Objeto da Linguística, apresenta:
O estudo da linguagem é de difícil apreensão, pois não é simples estabelecer qual seu objeto. Porém, podemos tomar a língua como norma de todas as manifestações da linguagem.
A língua é uma instituição social, parte determinada e essencial da linguagem. Está acima dos diversos órgãos do corpo humano que a articulam, pois “existe uma faculdade mais geral, a que comanda os signos e que seria a faculdade linguística por excelência”.
A organização da língua como sistema dá-se pela associação de signos que, em conjunto, formam conceitos reconhecidos por toda a sociedade que utiliza a determinada língua.
Apesar da natureza concreta de ambas, é preciso distinguir a língua da fala. Enquanto essa é individual e dependente de um mecanismo psicofísico - que permite a exteriorização da fala-; aquela é social e não premeditada.
A fala e a língua ainda se diferencial porque a primeira não pode ser retratada em imagens convencionais, enquanto a segunda pode ser representada como imagens acústicas, tangidas pela escrita.
A língua é classificável como um comportamento humano e social, que exprime ideias. Para o estudo “dos signos no seio da vida social” o autor propõe a criação da Semiologia, ciência que constituiria parte da Psicologia social. “Ela nos ensinará em que consistem os signos, que leis os regem”.
Saussure, no capítulo I da Primeira Parte -Natureza do Signo Linguístico, discute:
A língua não é simples nomenclatura. O signo linguístico une um conceito (significado) e uma imagem acústica (significante). Há duas características primordiais do signo linguístico:
- Ele é arbitrário – não é a sequência de letras que representa tal palavra que lhe dará significação. Já o símbolo (significante), não é completamente arbitrário – ex: não podemos substituir a balança que representa a justiça por outro objeto, como um carro.
Obs.: Com a palavra arbitrário, “queremos dizer que significado como qual não tem nenhum laço natural na realidade”.
- O significante possui um caráter linear. Por ter uma natureza auditiva, desenvolve-se no tempo, representando uma expressão linear.
Saussure, no capítulo IV da Primeira Parte – O Valor Linguístico, debate:
“O papel característico da língua frente ao pensamento não é criar um meio fônico material para a expressão das ideias, mas servir de intermediário entre o pensamento e o som, em condições tais que uma união conduza necessariamente a delimitações recíprocas de unidades. (..) cada termo linguístico é um pequeno é um pequeno membro, um articulus, em que uma ideia se fixa num som e em que um som se torna o signo de uma ideia.”
O Sistema Linguístico é resultado da criação social. Um indivíduo, por si só, é incapaz de fixar um signo. É necessário o consenso geral e o uso de um signo para imbuí-lo de valores.
Há que se destacar a diferença tênue, porém marcante, da “significação” e do “valor” de uma palavra. A existência de um valor dá-se por dois princípios: Uma palavra pode
- “ser trocada por algo dessemelhante, uma ideia.”
- “ser comparada com algo de mesma natureza, uma outra palavra.”
As palavras estão revestidas de uma significação (ex: sheep e mutton, no inglês, significam o equivalente à carneiro), e também de valores (sheep refere-se ao animal e mutton à porção de carne servida à mesa).
Apenas a associação do conceito à imagem acústica pode expressar significação de certa palavra, entretanto não representará o fato linguístico na sua essência e amplitude.
“O que importa na palavra não é o som em si, mas as diferenças fônicas que permitem distinguir essa palavra de todas as outras, pois são elas que levam a significação.”
Por processo semelhante passa a escrita. Não é o som que a letra designa que a caracteriza. Tampouco importa a variante da letra (ex: posso escrever T, T, T que o valor será o mesmo) ou o meio de produção do signo (a cor, relevo, se foi escrita à lápis ou à caneta).
O sistema de valores é produzido pela confrontação dos diferentes signos acústicos, que, por sua vez, são constituídos da combinação entre sons e ideias.
A instituição linguística tem, então, por objetivo manter o paralelismo entre o significado e o significante.
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ARBITRARIEDADE (DO SIGNO)
Na linguística saussuriana, diz-se que a relação que une o significado ao significante é marcada pela arbitrariedade. De forma geral, pode-se dizer que o signo linguístico é arbitrário porque é sempre uma convenção reconhecida pelos falantes de uma língua. Por exemplo, a ideia de garrafa e o seu significante [g a R a f a ] mostra que existe arbitrariedade na relação significado/significante, porque em outras línguas o registo fonético é diferente para o mesmo significado (bottle, em inglês, ou bouteille, em francês). Quer dizer, não existe uma relação natural entre a realidade fonética de um signo linguístico e o seu significado.
Ainda na teoria saussuriana, consideram-se dois tipos de arbitrariedade: a absoluta e a relativa, para dizer, respectivamente, a imotivação total do signo (tomado isoladamente) e a motivação relativa, de que são exemplo os derivados (pereira remete-nos para a palavra original pêra, mas o seu sufixo -eira lembra-nos outros signos semelhantes como bananeira ou macieira).
A arbitrariedade do signo linguístico tem sido objecto, neste século XX, de grande discussão. Em “La linguistique en France” (Journal de psychologie normale et pathologique, 33, 25, 1937), E. Pinchon chama a atenção para que a realidade fonética do signo não é diferente nem existe independentemente do significado, pelo que conclui que tal relação é necessária e não arbitrária. Em Problèmes de linguistique générale (1966), Emile Benveniste argumenta que o vínculo entre significado e significante não é arbitrário mas necessário, porque as duas realidades do signo são indissociáveis. Jacques Derrida pronunciou-se também criticamente em relação ao modelo saussuriano: “A tese do arbitrário do signo (….) deveria proibir a distinção radical entre signo linguístico e signo gráfico. Sem dúvida, esta tese refere-se somente, no interior de uma relação pretensamente natural entre a voz e o sentido em geral, entre a ordem dos significantes fónicos e o conteúdo dos significados (…), à Necessidade das relações entre significantes e significados determinados. Somente estas últimas relações seriam regidas pelo arbitrário. No interior da relação ‘natural’ entre os significantes fónicos e seus significados em geral, a relação entre cada significante determinado e cada significado determinado seria ‘arbitrária’. Ora, a partir do momento em que se considera a totalidade dos signos determinados, falados e a fortiori escritos, como instituições imotivadas, dever-se-ia excluir toda a relação de subordinação natural, toda a hierarquia natural entre significantes ou ordem de significantes.” (Gramatologia, trad. de Miriam Schnaiderman e Renato J. Ribeiro, Ed. Perspectiva, São Paulo, 1973, pp.53-54).
PARA COMPREENDER SAUSSURE
Com uma linguagem clara e ordem lógica, este manual apresenta conceitos fundamentais da teoria linguística saussuriana. A obra trata de assuntos como - a Linguística pré-saussuriana; a Linguística saussuriana (signo, langue/parole, sincronia/diacronia, relações sintagmáticas e paradigmáticas, valor); repercussões das ideias de Saussure; glossemática.
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