Linguística
FASE PRÉ-SAUSSURIANA
A ciência que recebeu o nome de Linguística passou por três fases antes de receber reconhecer seu objeto de estudo.
A Linguística, assim como é conhecida atualmente, adquiriu status de ciência no final do século XIX, com o linguista suíço Ferdinand de Saussure. A vitalidade dos pensamentos saussurianos pode ser percebida até hoje e sua atualidade é inegável. Com a publicação do livro clássico Curso de Linguística Geral, as repercussões das ideias nele contidas se multiplicaram, dando origem a algumas correntes linguísticas como, por exemplo, a Estruturalista, a Funcionalista e a Gerativa.
Mas, antes de Saussure, a linguagem era estudada de forma assistemática, irregular, tendo um caráter puramente normativo e descritivo. Ais estudos dos fatos da língua eram mesclados estudos filológicos e especulações filosóficas. As três fases pré-saussurianas são: a filosófica, a filológica e a histórico-comparatista.
Os estudos filosóficos surgiram como uma disciplina normativa, desprovidos de cientificidade e desinteressados da língua por ela mesma. Esses estudos foram iniciados pelos gregos, contendo reflexões acerca da origem da linguagem, baseados na Filosofia e abrangendo a Etimologia, a Semântica, a Retórica, a Morfologia, a Fonologia, a Filologia e a Sintaxe. Tais estudos gregos influenciaram os romanos que reproduziram a Gramática grega, fazendo nascer a gramática das regras e das exceções.
As preocupações filológicas se constituem a segunda fase dos estudos dos fatos linguísticos. Surgidas em Alexandria, eram marcadamente gramaticais, dedicando-se à Morfologia, à Sintaxe e à Fonética, tendo como um de seus maiores divulgadores August Worf. A língua não é o único objeto da Filologia, e seus objetivos eram além de interpretar e comentar textos, estudar os costumes, as instituições e a história literária de um povo. Entretanto, seu ponto de vista crítico torna-se falho, pelo fato de ela ater-se demasiadamente à língua escrita, deixando de lado a língua falada. Contudo, é de se reconhecer que as pesquisas filológicas serviram de base para o surgimento e consolidação da Linguística histórico-comparatista.
Antes de reconhecer seu principal objeto de investigação, a Linguística passou por mais uma fase, a histórico-comparatista. Esse período começou com a descoberta do sânscrito, mostrando as relações de parentesco genético do latim, do grego, das línguas germânicas, eslavas e célticas com aquela antiga língua da Índia. Um dos estudiosos que procurou estabelecer graus de parentesco foi Franz Bopp, que publicou uma obra chamada Sistema de Conjugação do Sânscrito, sendo o primeiro a compreender que uma língua poderia ser esclarecida por meio de outra, explicando a forma de uma pela forma da outra. Entretanto, esse método comparativo não chegou a constituir a verdadeira ciência da Linguística, isso pelo fato de não se perguntar a que levava essa comparação e o que significavam as analogias que descobriam. Segundo Saussure, esse campo foi exclusivamente comparativo, em vez de histórico.
As três fases, que antecederam a Linguística como ciência propriamente dita, prestaram importantes contribuições aos problemas das manifestações da linguagem humana, apesar de não esclarecer, de forma mais sistemática, esses problemas.
A LINGUÍSTICA E A RELAÇÃO COM OUTRAS CIÊNCIAS
A matéria da Linguística é constituída inicialmente por todas as manifestações da linguagem humana, quer se trate de povos selvagens ou de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássica, ou de decadência, considerando-se em cada período não só a linguagem correta e a “bela linguagem”, mas todas as formas de expressão. Isso não é tudo: como todas as formas de expressão. Isso não é tudo: como a linguagem escapa as mais das vezes à observação, o linguista deverá ter em conta os textos escritos, pois, somente eles farão conhecer os idiomas passados ou distantes:
A tarefa da Linguística será:
Fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, o que quer dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstituir, na medida do possível, as línguas-mães de cada família;
Procurar as forças que estão em jogo, de modo a permanente e universal, em todas as línguas e deduzir as leis gerais às quais se possam referir todos os fenômenos peculiares da história;
Delimitar-se e definir-se a si própria. Saussure(1988)
OBJETO DA LINGUISTICA
O objeto da linguística não havia precisado, decorrendo a inexistência de um método próprio. Assim, mereciam maior preocupação dos estudiosos fatos como relação entre os textos e a cultura circulante.
Saussure (2006) nomeia pela primeira vez, com a maior clareza, o objeto da linguística, strictu sensu. Partindo do ponto de vista da linguagem como fenômeno unitário. Divide-a em língua (langue) e discurso (parole). A língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade; possui homogeneidade e por isto, é o objeto da linguística propriamente dito.
O discurso é um ato individual, em que interferem muitos outros fatores extralinguísticos e no qual se fazem sentir a vontade e liberdade individuais, sendo, portanto, heterogêneo não se prestando à descrição linguística. Apesar de reconhecer interdependência entre língua e discurso, Saussure considerava, pois, com o objeto stricto senso da linguística, a língua.
Gleason(1961), enfatiza que A linguística é a ciências que procura entender a língua do ponto de vista de usa interna, outros autores ampliam o conceito dizendo que a Linguística é o estudo científico da linguagem da linguagem.
GLEASON, H.A. An introduction to descriptive linguistics. New York, Holt. Rinehart and Winston, 1961.
SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. Trad. de A. Chelini, J.P. Paes e I. Blikstein. São Paulo, Cultrix, Universidade de São Paulo, 1988.
A
DISCIPLINA LINGUÍSTICA NOS CURSOS DE LETRAS
Guilherme Fromm
Na maioria
das faculdades/universidades privadas, atualmente, os cursos de graduação em
Letras são de licenciatura em português e uma língua estrangeira
(predominantemente inglês, ocasionalmente espanhol). Por imposições do MEC,
novos cursos devem comportar uma variada gama de matérias
voltadas para práticas pedagógicas, além de uma grande carga horária dedicada a
estágios. Em contrapartida, por imposições do mercado, a maioria dos cursos tem
sua duração reduzida a três anos.
O quadro
final, de um modo geral, é um bacharelado em Letras realizado em dois anos (o
terceiro ano voltado para a licenciatura), quando devem ser trabalhadas várias
disciplinas específicas: latim, linguística, línguas e literaturas (do
português e da língua estrangeira). Considerando que grande parte dos alunos
apresenta deficiências provenientes do ensino médio, cabe aos professores o
desafio de tentar desenvolver uma grande variedade de informações em pouco
tempo.
Dentre as disciplinas a serem cursadas, a linguística
é uma das que mais sofrem com essas reduções de carga horária. Tendo em vista
que o fundamento teórico/prático da linguística é a base para o ensino de todas
as outras línguas estudadas, deveria figurar entre as disciplinas básicas (como
português ou língua estrangeira). A grande problemática derivada da restrita
carga horária é que os alunos passam a considerá-la uma disciplina acessória, qualquer
que faz parte da matriz curricular, mas que não está conectada às demais. Motivados por essas constatações, procedemos à
consulta a alunos de universidades públicas e privadas sobre o papel da
disciplina linguística em relação à matriz curricular e fizemos uma análise
contrastiva das respectivas matrizes. Posteriormente, apresentamos novas
tendências de ensino na área e proporemos parte de um modelo de matriz, em que
linguística interage com as demais disciplinas, de modo a possibilitar a
redução no tempo de aprendizagem, já que várias disciplinas, por deficiências
de planejamento, repetem muitos conceitos linguísticos básicos sob diferentes
roupagens.
As
matrizes nos cursos de Letras: exemplos
Quando estudamos
matrizes curriculares, há a necessidade de se fazer uma distinção entre
universidades públicas e privadas e ainda entre as faculdades. As universidades
públicas, de um modo geral, ainda mantêm o curso de Letras com quatro anos de
duração para o bacharelado e a licenciatura é cursada separadamente; essas
universidades têm grande autonomia em relação ao MEC, especialmente as
estaduais. As universidades e faculdades privadas, com autonomia gradiente
frente ao MEC, tendem a reduzir os cursos somente à licenciatura, ou seja,
unindo o bacharelado e a licenciatura em uma única matriz de três anos. Todas, de um modo geral, permitem ao aluno
bacharelar-se/licenciar-se em duas línguas/literaturas correspondentes. As
públicas costumam oferecer uma gama maior de línguas (e disciplinas optativas), as privadas
concentram-se no português (sempre presente) e uma língua estrangeira
(geralmente o inglês). A carga da disciplina de linguística depende da
quantidade de anos/semestres do curso. A divisão dessa carga em número de
horas, porém, difere entre as universidades/faculdades.
Notamos
que a carga horária total dos cursos é quase equivalente, porém, percebemos a
grande diferença entre a carga básica da faculdade pública (cuja licenciatura
deve ser complementada em outra unidade) e as demais. Frente à baixa autonomia
das universidades/faculdades particulares em relação ao MEC, essas têm que
solicitar aos alunos seiscentas horas de estágio (entre estágio regular, 400
horas, e atividades complementares, 200 horas) e ainda inserir disciplinas
pedagógicas na grade (aproximadamente 200 horas). Excluindo da carga horária
total a média dessas horas de estágio e disciplinas, chega-se a aproximadamente
2.200 horas, ou 27,6% menos horas que na universidade pública.
Esse quadro
nos oferece, ainda, várias informações sobre como a disciplina Linguística é
tratada nos cursos de Letras:
• Como disciplina nomeada linguística, na
universidade Y, apresenta a maior carga horária; no cômputo geral, no entanto,
linguística representa somente 5,33% do total;
• a
universidade Y é a única que não apresenta disciplinas correlatas com linguística;
• a
universidade W, declaradamente, é a única que trabalha com disciplinas de linguística
aplicada à língua estrangeira (inglês, no caso);
• as
universidades X e Y relacionam a linguística à língua portuguesa através da
disciplina filologia românica;
• a
universidade Z é a única que apresenta a disciplina semiótica;
• a maior
diferença entre a carga total de linguística, entre as universidades W e Y, é
de 44,4% e
• a
universidade X é a única que mantem uma licenciatura em um curso de quatro
anos; é também aquela que apresenta a maior quantidade de horas na matriz das
licenciaturas.
O ponto de vista do aluno
Verificamos, por meio da pesquisa (ver anexo
1) que, apesar da baixa carga horária no cômputo geral da matriz, os alunos
consideram a disciplina de linguística importante (40%) ou muito importante
(60%), o que é bastante animador para os professores que contam com pouco tempo
para desenvolvê-la.
Alguns fatos, para nós inéditos, começam a
aparecer quando procuramos relacionar a disciplina de linguística com as demais
do curso. Um aluno (6,66%) respondeu que essa disciplina pouco se relaciona com
as demais, 4 (26,66%) afirmam que se correlaciona e alguma maneira, 4 (26,66%)
reconhecem que a correlação é frequente e 6 (40%) acreditam que ela está
totalmente correlacionada com as demais disciplinas. De um certo modo,
representa um alívio para os professores e coordenadores dos cursos, já que
mostra que 66,66% desses alunos têm algum grau de consciência sobre o
planejamento geral da matriz.
Já a
relação teoria/prática apresenta um descompasso entre as opiniões. Percebemos
em muitos cursos, ao analisarmos as ementas da disciplina, que o ensino de linguística
ainda está muito voltado para a teoria; pouco ou quase nada dessas ementas
apresenta propostas para a linguística aplicada. As impressões dos alunos,
porém, não parecem confirmar isso: apenas um considerou o ensino totalmente
voltado para a teoria (6,66%); cinco escolheram a opção que apresenta o curso
quase que totalmente teórico (33,33%); oito (53,33%) consideraram haver um
equilíbrio entre teoria e prática e apenas um (6,66%) achou que o curso é quase
que totalmente prático.
Leia o texto na íntegra no endereço
http://www.ileel.ufu.br/guifromm/upload/adisciplinalinguisticanoscursosdeletrasalgumasconsideracoes.pdf
Outras leituras sobre a temática:
www.fapese.org.br/revista_fapese/v3n1/artigo4.pdf
www.escrita.uem.br/escrita/pdf/mcgohuschi3.pdf
www.msmidia.com/conexao/2/cap6.pdf
http://www.ileel.ufu.br/guifromm/upload/adisciplinalinguisticanoscursosdeletrasalgumasconsideracoes.pdf
Outras leituras sobre a temática:
www.fapese.org.br/revista_fapese/v3n1/artigo4.pdf
www.escrita.uem.br/escrita/pdf/mcgohuschi3.pdf
www.msmidia.com/conexao/2/cap6.pdf
LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL
Sempre que nos comunicamos com alguém utilizamos dois tipos de linguagem: verbal e não verbal. A linguagem verbal compõe-se de palavras e frases. A linguagem não verbal é constituída pelos outros elementos envolvidos na comunicação, a saber: gestos, tom de voz, postura corporal, etc.
Que ninguém duvide do poder da linguagem não verbal. Se uma pessoa lhe diz que está muito feliz mas sua voz é baixa, seus ombros estão caídos, o rosto inexpressivo, em qual mensagem você acredita? Na que ouviu ou na que viu? À esta discrepância entre a linguagem verbal e não verbal damos o nome de incongruência. Portanto, uma pessoa incongruente em determinado aspecto diz uma coisa e expressa outra diferente através de seus gestos, postura, voz, etc.
A linguagem não verbal provém do inconsciente de quem se comunica. Esta é a razão pela qual é tão difícil controlá-la conscientemente (por exemplo, um candidato a um emprego tem dificuldades para disfarçar suas mãos trêmulas em virtude da ansiedade na hora da entrevista). E será processada pelo inconsciente de quem recebe esta comunicação. Deste fato decorrem algumas observações interessantes.
Imagine a seguinte situação: Uma mãe diz a seu filho que o ama, mas com uma voz ríspida e expressão agressiva. Obviamente, o inconsciente da criança registrará a incongruência e ela não se sentirá amada. Todavia, a fim de se proteger da dor que isto causa, ela poderá não dar ouvidos à mensagem inconsciente, procurará ignorá-la e assim se convencer de que a mãe a ama. Com o tempo e com a repetição, ela poderá aprender a desconsiderar sempre a mensagem de seu inconsciente.
Em geral uma pessoa que expressa uma incongruência está dividida internamente. Imagine um político explicando sua plataforma política a seus eleitores de uma forma que não os convence. É como se uma parte dele confiasse no plano e estivesse convencida de seus benefícios, mas outra parte sua tivesse dúvidas a respeito de sua eficácia. Por este motivo, a comunicação será vacilante, insegura ou artificial (exceção feita aos bons atores e àqueles que convencem a si próprios).
Com relação às mensagens verbais e não verbais, ou conscientes e inconscientes, vale ressaltar que para a PNL ambas são reais e igualmente importantes. Porque cada uma delas é a expressão de uma parte da pessoa.
As dicotomias saussurianas
- Língua X Fala
Saussure também efetua, em sua teorização, uma separação entre língua e fala. Para ele, a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade, possui homogeneidade e por isto é o objeto da linguística propriamente dita. Diferente da fala que é um ato individual e está sujeito a fatores externos, muitos desses não linguísticos e, portanto, não passíveis de análise.
- Sincronia X Diacronia
Ferdinand de Saussure enfatizou uma visão sincrônica, um estudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica do estudo da linguística histórica, estudo da mudança dos signos no eixo das sucessões históricas, a forma como o estudo das línguas era tradicionalmente realizado no século XIX. Com tal visão sincrônica, Saussure procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo (recorte sincrônico).
- Sintagma X Paradigma
O sintagma, definido por Saussure como “a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior”, e surge a partir da linearidade do signo, ou seja, ele exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo só passa a ter valor a partir do momento em que ele se contrasta com outro elemento. Já o paradigma é ,como o próprio autor define, um "banco de reservas" da língua fazendo com que suas unidades se oponham pois uma exclui a outra.
- Significante X Significado
O signo linguístico constitui-se numa combinação de significante e significado, como se fossem dois lados de uma moeda.
·
- O significante do signo linguístico é uma "imagem acústica" (cadeia de sons). Consiste no plano da forma.
- O significado é o conceito, reside no plano do conteúdo.
Contudo, indubitavelmente, a teoria do valor é um dos conceitos cardeais do pensamento de Saussure. Sumariamente, esta teoria postula que os signos linguísticos estão em relação entre si no sistema de língua. Entretanto, essa relação é diferencial e negativa, pois um signo só tem o seu valor na medida em que não é um outro signo qualquer: um signo é aquilo que os outros signos não são.
Apresentações das Aulas
http://www.2shared.com/file/aKClBVP2/Lingustica_I.html
http://www.2shared.com/file/JTqJDSph/No-verbais.html
http://www.2shared.com/file/bXwA-DDF/Sincronia_e_Diacronia.html
http://www.2shared.com/file/oDmDzlo2/Sintagma_e_paradigma.html
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SEO GOMIS,
‘O CRIENTE DE BELZONTE PIDIU MAIS CUATRUCENTA PESSA. FAZ FAVORTOMÁ AS PROVIDENSSA.
APROXIMADAMENTE UMA HORA DEPOIS, RECEBEU OUTRO:
NO OUTRO:
E TOMOU. REDIGIU DE PRÓPRIO PUNHO UM AVISO E O AFIXOU NO MURAL DA EMPRESA, JUNTAMENTE COM AS MENSAGENS DE FAX DO VENDEDOR:
http://www.2shared.com/file/JTqJDSph/No-verbais.html
http://www.2shared.com/file/bXwA-DDF/Sincronia_e_Diacronia.html
http://www.2shared.com/file/oDmDzlo2/Sintagma_e_paradigma.html
LÍNGUA
ORAL E LÍNGUA ESCRITA
Cada
uma com suas propriedades, a Língua Oral e a Língua Escrita se
completam. Os falantes não escrevem exatamente como falam, pois a fala
apresenta como características uma maior liberdade no discurso, pois não
necessita ser planejada; pode ser redundante; enfática; usando timbre,
entonação e pausas de acordo com a retórica – estas características são
representadas na língua escrita por meio de pontuações.
Necessita-se
de contato direto com o falante para que haja linguagem
oral, sendo a mesma espontânea e estando em
constante renovação. Assim, como o falante não planeja, em seu discurso pode
haver uma transgressão à norma culta.
A escrita, por vez, mantém contato indireto entre escritor
e leitor. Sendo mais objetiva, necessita de grande atenção e obediência às
normas gramaticais, assim, a escrita caracteriza-se por frases completas, bem elaboradas e
revisadas, explícitas, vocabulário distinto e variado, clareza no diálogo e uso
de sinônimos. Devido a estes traços esta é uma linguagem conservadora aos
padrões estabelecidos pelas regras gramaticais.
Ambas as linguagens apresentam características distintas
que variam de acordo com o indivíduo que a utiliza, portanto considerando que
as mesmas sofrem influência da cultura e do meio social, não se pode determinar que
uma seja melhor que a outra, pois seria desconsiderar essas influências. No
momento que cada indivíduo, com sua particularidade, consegue se comunicar a
linguagem teve sua função exercida.
Linguagem Oral e Escrita - O erro
Atualmente,
o domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação social
efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação,
expressa e defende pontos de vista, divide ou constrói visões de mundo e produz
novos conhecimentos.
Nesse sentido, ao ensiná-la a escola tem a
responsabilidade de garantir a todos os seus alunos os saberes linguísticos, necessários
ao exercício da cidadania, um direito de todos. Por isso, o ensino da língua
portuguesa, tem sido o centro das discussões a fim melhorar a qualidade da educação
no país.
Analisando o contexto histórico do
ensino no Brasil, percebe-se que a pedagogia tradicional transmite muitas
mensagens, como por exemplo, que o erro é vergonhoso precisando ser evitado a
qualquer custo. Sob este ponto de vista, o aluno fica sem coragem de expressar
seu pensamento, por medo de escrever ou falar de forma errada. A visão culposa
do erro, na prática escolar, tem conduzido ao uso permanente do
castigo como forma de correção e direção da aprendizagem, tornando a avaliação
como base da decisão.
A ideia de erro surge no contexto da existência de um padrão
considerado correto. A solução insatisfatória de um problema só
pode ser considerada errada, a partir do momento que se tem uma forma
considerada certa de resolvê-lo; uma conduta é considerada errada, na medida
em que se tem uma definição de como seria considerada correta, e assim por
diante.
“A tradição escolar, cuja crença é a de que se aprende
pela repetição, concebe os erros como inadequações que as crianças
cometem ao reproduzir o conteúdo que se ensinou.”(Kaufman et al; 1998, p. 46).
Assim, todo o esforço do professor consiste em evitar que os erros ocorram e em
corrigir aqueles que não puderam ser evitados.
Porém, de acordo com as novas práticas pedagógicas, o
erro é visto como um indicador dos conhecimentos adquiridos ou em construção.
Uma visão sadia do erro permite sua utilização de forma construtiva. Face a
isto, quando tratamos de avaliação, impreterivelmente, precisamos enfrentar a questão
do erro. Lidar com os erros dos aprendizes é, possivelmente, uma das maiores
dificuldades dos professores. Superar essa dificuldade implica refletir a cerca
do conceito que temos de erro.
Se o trabalho desenvolvido em sala de aula permitir as crianças
escrever livremente, da forma
como sabem, o resultado de suas escritas criará nelas próprias aflição
e, consequentemente, a necessidade de superar os erros que cometem.
É
fundamental ver os erros das crianças como indicações a cerca do nível de
conhecimento que elas possuem sobre a língua escrita.
Desse modo, o educador terá́ condições de planejar atividades que venham ajudar
o aluno a superar suas limitações temporárias e, assim, progredir
cognitivamente. Tais atividades envolveriam o ensino lúdico da ortografia, os
trabalhos individuais e grupais, utilização de diferentes tipos de recursos didáticos
e do próprio meio.
Receber
o erro como processo de construção do conhecimento não significa ignorá-lo,
aguardando que o aluno o perceba sozinho, e sim gerar situações
problematizadoras e instigantes, que levam o aluno a reformular hipóteses e
confrontar saberes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEC (Ministério
da Educação) Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa. Brasília, MEC.1998.
SANTOS, Leonor
Werneck dos. Oralidade e escrita nos PCN de língua
portuguesa. Disponível
em http://www.filologia.org.br/viiisenefil/08.html. Acessado em três de
dezembro de dois mil e dez às dezessete e treze.
MARTELOTTA,
M.E. (Org.) et al. Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2008.
CAVÉQUIA.
Márcia Paganini. Alfabetização/Márcia Paganini Cavéquia. São Paulo:
Scipione,
2004. – (A escola é nossa)
CÓCCO. Maria
Fernandes. ALP: Alfabetização, análise, linguagem e pensamento: um
trabalho de linguagem numa proposta socioconstrutivista/Maria Fernandes Cócco, Marco Antônio
Hailer. São Paulo: FTD, 1995.
STEINLE.
Marlizette Cristina Bonafini et al. Instrumentação
do trabalho pedagógico nos anos iniciais do Ensino Fundamental/ Marlizette Cristina Bonafini Steinle;
Elaine Teixeira França; Érica Ramos Moimaz; Ana Maria de Souza Valle
Teixeira; Sandra Regina dos Reis Rampazzo; Edilaine Vagula. Londrina: Editora
UNOPAR, 2008.
“UM GERENTE DE VENDAS RECEBEU O SEGUINTE FAX DE UM
DOS SEUS NOVOS VENDEDORES:
SEO GOMIS,
‘O CRIENTE DE BELZONTE PIDIU MAIS CUATRUCENTA PESSA. FAZ FAVORTOMÁ AS PROVIDENSSA.
ABRASSO, NIRSO.’
APROXIMADAMENTE UMA HORA DEPOIS, RECEBEU OUTRO:
'SEO GOMIS,
OS RELATÓRIO DI VENDA VAI XEGÁ ATRAZADO PROQUE TÔ FEXANDO UMASVENDA. TEMO QUE MANDÁ TREIS MIR PESSA. AMANHÃ TÁ XEGANO.'
OS RELATÓRIO DI VENDA VAI XEGÁ ATRAZADO PROQUE TÔ FEXANDO UMASVENDA. TEMO QUE MANDÁ TREIS MIR PESSA. AMANHÃ TÁ XEGANO.'
ABRASSO, NIRSO.
'NO DIA SEGUINTE:
'SEO GOMIS,
NUM XEGUEI PUCAUSA DE QUE VENDI MAIS DEIS MIR EM BERABA. TÔ INDOPRA BRAZILHA.
NUM XEGUEI PUCAUSA DE QUE VENDI MAIS DEIS MIR EM BERABA. TÔ INDOPRA BRAZILHA.
NO OUTRO:
'SEO GOMIS,
BRAZILHA FEXÔ 20 MIL. VÔ PRA FROLINÒPOLIS E DI LÁ
PRA SUM PAULONO VINHÃO DAS CETE HORA.’
ASSIM FOI O MÊS INTEIRO.O GERENTE, MUITO PREOCUPADO
COM A IMAGEM DA EMPRESA, POR CONTA DO PORTUGUÊIS DO NIRSO, LEVOU AO PRESIDENTE
AS MENSAGENS QUE RECEBEU DO VENDEDOR.O PRESIDENTE ESCUTOU ATENTAMENTE O GERENTE
E DISSE:
'-DEIXA COMIGO, QUE EU TOMAREI AS PROVIDÊNCIAS
NECESSÁRIAS'.
E TOMOU. REDIGIU DE PRÓPRIO PUNHO UM AVISO E O AFIXOU NO MURAL DA EMPRESA, JUNTAMENTE COM AS MENSAGENS DE FAX DO VENDEDOR:
‘A PARTI DE OJE NOIS TUDO VAMO FAZÊ FEITO O NIRSO.
SI PRIOCUPÁ MENOS EM ISCREVÊ SERTO , MOD VENDÊ MAIZ.' ACINADO,
O PRIZIDENTI. “”
VARIAÇÕES
LINGUÍSTICAS
Marcus Maia
VARIAÇÃO DIATÓPICA
Uma
língua não permanece a mesma em toda a extensão do território onde é falada. Um
dos traços mais marcantes da identidade característica de uma pessoa é, sem
dúvida, a sua origem geográfica. No âmbito da língua portuguesa, por exemplo, é
comum tentar-se caracterizar a origem de uma pessoa com base em sua pronúncia
ou em suas preferências de uso lexical. Assim, pode-se ouvir, no dia-a-dia,
classificações informais sobre os falares regionais brasileiros, tais como, o
falar mineiro, o falar carioca, o falar nordestino, etc.
Nem
sempre estas classificações conseguem ser precisas, pois não é tarefa simples
isolar variantes puramente geográficas dos demais tipos de variantes
linguísticas, tais como as variações decorrentes da classe social, grau de
educação, idade, estilo, etc. De fato, a variação linguística é um fenômeno tão
pervasivo que pode-se até mesmo falar da variação individual do uso
linguístico, conceito expresso pelo termo idioleto, que designa, exatamente, as
particularidades próprias da língua falada por cada um de nós, uma vez que
todos temos nossas preferências lexicais e características de pronúncia
individuais.
O
estudo das variantes geográficas é feito por uma disciplina denominada Geografa
Linguística ou Geolinguística, relacionada a uma disciplina mais antiga e
abrangente, a dialetologia. A Geolinguística, teve seu início com as pesquisas
feitas pelo alemão Wenker e pelos franceses Gilliéron e Edmont. Estes últimos
tornaram-se célebres pelo Atlas Linguístico da França, lançado na primeira década
do século XX, tendo o segundo autor percorrido de bicicleta grande parte do
território francês, em uma tarefa meticulosa de documentação dos falares
regionais. De fato, a Geografa Linguística procura representar as variantes
espaciais de uma língua em mapas ou atlas.
O
linguista Mattoso Câmara Jr. propõe que os dialetos sejam as variantes que
apresentem diferenças mais marcantes em relação à língua padrão, podendo
incluir alguns traços morfossintáticos, enquanto que os falares regionais
restringem-se, geralmente, ao léxico e à pronúncia. Por esse critério, as
diferenças encontradas entre as variantes do português no Brasil
caracterizariam quase sempre os falares regionais, embora alguns autores
apontem a existência de um dialeto caipira. Geralmente, uma das variantes de
uma língua é escolhida como a língua padrão de um país. Esta escolha não se
baseia em propriedades linguísticas intrínsecas daquela variante, que é
escolhida por razões políticas e culturais e não por que seja “melhor” ou “mais
correta” do que as demais variantes. Assim, a variante do português falada no
Rio de Janeiro, foi tomada como padrão, na década de 1950, pois o Rio de
Janeiro na ocasião era a capital do Brasil.
VARIAÇÃO DIASTRÁTICA
Assim
como varia horizontalmente, isto é, no âmbito da região geográfica onde é falada,
uma língua também apresenta variações verticais, ou seja, no âmbito de uma
comunidade específica localizada em uma mesma região geográfica, caracterizando
o que se tem chamado de dialetos sociais ou socioletos. Há uma interação
estreita entre a variação horizontal e a vertical. O próprio conceito de dialeto
padrão, apresentado na seção anterior com base em um critério geográfico (por exemplo,
o fato de o português do Rio de Janeiro ter sido indicado como padrão na década
de 1950, quando o Rio de Janeiro era a capital do Brasil), pode ser reavaliado
como sendo caracterizado por um dialeto social, considerando-se critérios como
classe social, nível educacional, etc., independentemente da localização
geográfica.
Nesse
caso, o dialeto padrão pode ser definido como a variante linguística usada pelo
grupo de falantes em posição de domínio político e econômico em uma dada
sociedade. As variantes sociolinguísticas ocorrem em todas as sociedades e
estão diretamente relacionadas às categorias através das quais cada sociedade
se organiza. Nem sempre essas categorias permitem uma diferenciação nítida
entre si, formando um sistema complexo em que cada fator entrecruza-se com os
demais. Entre esses vários fatores de estratificação social, costuma-se
distinguir os seguintes:
Idade – As diversas faixas etárias dos falantes que compõem uma sociedade apresentam correlatos linguísticos, muitas vezes mais aparentes no plano do vocabulário, mas que podem, também, manifestar-se na pronúncia e nos tipos de construção frasal preferenciais. Pode-se distinguir facilmente a linguagem infantil da linguagem do adulto, mas há também outras faixas etárias que, geralmente, apresentam peculiaridades de linguagem, tais como os adolescentes e os anciãos. Apreciaremos com maior vagar estas diferenças na seção.
Idade – As diversas faixas etárias dos falantes que compõem uma sociedade apresentam correlatos linguísticos, muitas vezes mais aparentes no plano do vocabulário, mas que podem, também, manifestar-se na pronúncia e nos tipos de construção frasal preferenciais. Pode-se distinguir facilmente a linguagem infantil da linguagem do adulto, mas há também outras faixas etárias que, geralmente, apresentam peculiaridades de linguagem, tais como os adolescentes e os anciãos. Apreciaremos com maior vagar estas diferenças na seção.
Sexo – Apesar da
homogeneidade cada vez maior entre os papéis sociais desempenhados pelo homem e
pela mulher nas grandes cidades, em muitas culturas, as diferenças de gênero
costumam estar associadas, em maior ou menor grau, a diferenças linguísticas,
sobretudo no que tange ao vocabulário. Nas sociedades indígenas, podem ocorrer
diferenças formais bastante marcadas entre a fala do homem e a fala da mulher.
Profissão – As atividades profissionais, geralmente, têm seu vocabulário técnico específico, dominado por seus praticantes. Essas características, geralmente lexicais, específicas dos grupos sócio profissionais recebem a denominação de jargão. Por exemplo: jargão médico, dos radioamadores, dos carpinteiros, etc. De caráter não técnico e, por vezes, carregada de conteúdo emocional, distingue-se, a gíria, vocabulário expressivo, utilizado por um grupo social a fim de se diferenciar dos demais.
Profissão – As atividades profissionais, geralmente, têm seu vocabulário técnico específico, dominado por seus praticantes. Essas características, geralmente lexicais, específicas dos grupos sócio profissionais recebem a denominação de jargão. Por exemplo: jargão médico, dos radioamadores, dos carpinteiros, etc. De caráter não técnico e, por vezes, carregada de conteúdo emocional, distingue-se, a gíria, vocabulário expressivo, utilizado por um grupo social a fim de se diferenciar dos demais.
Posição social – O status dos falantes dentro
do grupo social a que pertencem também atua como um elemento diferenciador da
linguagem. Esse fator está estreitamente relacionado ao fator profissional e ao
fator escolaridade.
Grau de escolaridade – A frequência à escola exerce uma influência forte
sobre o grau de domínio e uso das regras da gramática prescritiva, atuando como
um fator importante de implementação do dialeto padrão.
Local de residência – Áreas
dentro de uma mesma cidade, ou bairros, podem desenvolver seu uso próprio da
linguagem, ficando seus membros caracterizados por certas escolhas vocabulares,
certas expressões, gírias típicas, etc. Além desses fatores, há vários outros
papéis sociais que podem variar de sociedade para sociedade e que, entre outros
emblemas, podem estar associados a marcadores linguísticos.
VARIAÇÃO SITUACIONAL
Um
mesmo falante de uma dada língua deve ser capaz de variar sua maneira de se
expressar dependendo da situação em que se encontra. Por exemplo, ao se dirigir
a um velho amigo em uma festa, certamente o falante deverá usar a linguagem de
modo distinto daquele que usaria se estivesse em uma entrevista de emprego.
Vários traços linguísticos correlacionam-se diretamente ao contexto imediato ou
situação de fala em que o evento comunicativo ocorre. O ambiente físico, o
contexto social ou cultural, o tema da fala, o grau de intimidade entre os
interlocutores, os elementos emocionais são, todos, fatores inter-relacionados e,
muitas vezes, sobrepostos, que caracterizam as chamadas variantes situacionais
de fala, também denominadas de registros ou níveis de fala. Embora não haja uma
escala padronizada de registros, costuma-se diferenciar os seguintes: formal,
coloquial tenso, coloquial distenso e informal. Vejamos, abaixo, um exemplo em
que o mesmo conteúdo, basicamente, está expresso de forma variável, de acordo
com o registro adequado:
Formal
– Há os que insistem em se locupletarem em detrimento de seus pares.
Coloquial
tenso – Existem aqueles que teimam em se beneficiar em prejuízo dos demais.
Coloquial
distenso – Tem gente que não pára de se aproveitar das pessoas.
Informal
– Tem uns caras que vivem se dando bem em cima dos outros.
Naturalmente,
esses eixos de variação não são mutuamente exclusivos, interagindo entre si de
várias formas. Uma das mais importantes funções da variação linguística é
permitir a identificação do indivíduo a um grupo. Como, geralmente, em todas as
sociedades, os indivíduos pertencem a vários grupos, o uso da variante
linguística adequada funciona como um elemento de identidade, podendo marcar-se
o pertencimento a diferentes grupos através da mudança de código. O fenômeno da
mudança de código pode se dar, tanto em relação a variantes de uma mesma
língua, quanto em relação a várias línguas diferentes em sociedades bilíngues
ou multilíngues.
VARIAÇÃO DIACRÔNICA
Uma
língua está em permanente transformação. Não falamos hoje como falávamos há alguns
anos; em todas as gerações, os jovens sempre falam diferente dos velhos, têm
outras preferências vocabulares e de construção frasal e até pronúncias
distintas. A mudança linguística é inexorável, afetando todos os níveis de
organização das línguas, que vão se transformando, abandonando certas
pronúncias, palavras e construções e adotando novos itens lexicais e estruturas
sintáticas.
Assim,
em cada momento da história de uma língua, encontram-se arcaísmos e
neologismos. Os arcaísmos são vocábulos ou construções sintáticas que deixaram
de ser usados. Por exemplo, palavras como alpendre, itajer, supimpa, outrossim,
são arcaicas, podendo ainda ser ouvidas, talvez, apenas na boca dos mais
idosos. Além dos vocábulos, as construções frasais também envelhecem. Por
exemplo, no século XIX, eram comuns frases como Ninguém não veio, em que uma
palavra de sentido negativo precedia o verbo, sem que se omite-se o advérbio de
negação. Nessa época usava-se também a construção ambos os dois, atestada mesmo
em textos literários. A expressão é, hoje, considerada incorreta pela gramática
normativa, que a caracteriza como um caso de pleonasmo, redundância a ser
evitada. Também eram bem mais comuns o uso da mesóclise (far-se-á), do
pretérito mais-que-perfeito (amara, bebera, partira) e de algarismos romanos,
hoje de uso já bastante restrito. Os neologismos são os novos vocábulos que não
ocorriam em gerações anteriores com o mesmo significado, ou que são recuperados
com diferentes valores semânticos. Ex: marajá, clicar, xerocar, etc.
Em
função do desenvolvimento científico, novos conceitos e técnicas surgem,
exigindo caracterização linguística. Os novos vocábulos podem ser formados a
partir de recursos da própria língua ou por empréstimo. Até metade do século
XX, grande parte das novas palavras incorporadas ao léxico da língua portuguesa
era de origem francesa (galicismos), pois a França exercia grande influência
cultural sobre o Brasil. Palavras como abajur, chofer, champanhe, menu, charme,
chique, butique, guichê integraram-se ao português nessa época. A partir da
segunda guerra mundial, a influência crescente dos Estados Unidos faz-se notar
na incorporação de anglicismos, palavras de origem inglesa, pelas línguas do
mundo. A área da informática oferece grande número de exemplos: internet, software,
mouse, host, driver, scanner, laptop, e-mail, homepage, Windows – tantos, que
apenas raramente são adaptados aos padrões ortográficos da língua portuguesa.
Além dessas importações lexicais, registram-se, também, atualmente, no português,
neologismos sintáticos de base inglesa, tais como a anteposição do termo
modificador ao modificado, ao invés da ordem modificado - modificador
característica do português. Assim, usa-se, por exemplo, futebol clube ao invés
de clube de futebol; esporte clube ao invés de clube esportivo ou de esportes.
Além dessas, ouvem-se muito hoje, também, construções importadas do inglês como
é suposto de ser (it is supposed to be), é dito ser (it is said to be) e mesmo
tem sido mostrado (it has been shown) ou vão estar fazendo (they are going to
be doing).
REFERÊNCIAS
MAIA, Marcus. Manual de Linguística: subsídios para a
formação de professores indígenas na área de linguagem / – Brasília:
Ministério da Educação,
Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e
Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006.
A CONSTRUÇÃO DO TEXTO
Maria Lúcia Mexias
Simon
A noção de texto
é central na linguística textual e na teoria do texto, abrangendo realizações tanto
orais quanto escritas, que tenham a extensão mínima de dois signos linguísticos,
sendo que a situação pode assumir o lugar de um dos signos como em "Socorro!".
(Stammerjohann, 1975). Para a construção de um texto é necessária a junção de
vários fatores que dizem respeito tanto aos aspectos formais como as relações
sintático-semânticas, quanto às relações entre o texto e os elementos que o circundam:
falante, ouvinte, situação (pragmática).
Um texto bem construído
e, naturalmente, bem interpretado, vai apresentar aquilo que Beaugrande e
Dressier chamam de textualidade, conjunto de características que fazem, de um texto,
e não uma sequência de frases. Esses autores apontam sete aspectos que são responsáveis
pela textualidade de um texto bem constituído:
É o aspecto que
assumem os conceitos e relações subtextuais, em um nível ideativo. A coerência
é responsável pelo sentido do texto, envolvendo fatores lógico-semânticos e cognitivos,
já que a interpretabilidade do texto depende do conhecimento partilhado entre os
interlocutores. Um texto é coerente quando compatível como conhecimento de mundo
do receptor. Observar a coerência é interessante, porque permite perceber que
um texto não existe em si mesmo, mas sim se constrói na relação
emissor-receptor-mundo.
Intertextualidade
Concerne aos
fatores que tornam a interpretação de um texto dependente da interpretação de outros.
Cada texto constrói-se, não isoladamente, mas em relação a outro já dito, do
qual abstrai alguns aspectos para dar-lhes outra feição. O contexto de um texto
também pode ser outros textos com os quais se relaciona.
Intencionalidade
Refere-se ao
esforço do produtor do texto em construir uma comunicação eficiente capaz de
satisfazer os objetivos de ambos os interlocutores. Quer dizer, o texto
produzido deverá ser compatível com as intenções comunicativas de quem o produz.
Aceitabilidade
O texto
produzido também deverá ser compatível com a expectativa do receptor em colocar-se
diante de um texto coerente, coeso, útil e relevante. O contrato de cooperação estabelecido
pelo produtor e pelo receptor permite que a comunicação apresente falhas de quantidade
e de qualidade, sem que haja vazios comunicativos. Isso se dá porque o receptor
esforça-se em compreender os textos produzidos.
Informatividade
É a medida na
qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, pelo receptor.
Um discurso menos previsível tem mais informatividade. Sua recepção é mais trabalhosa,
porém mais interessante, envolvente. O excesso de informatividade pode ser rejeitado
pelo receptor, que não poderá processá-lo. O ideal é que o texto se mantenha num
nível mediano de informatividade, que fale de informações que tragam novidades,
mas que venham ligadas a dados conhecidos.
Situacionalidade
É a adequação
do texto a uma situação comunicativa, ao contexto. Note-se que a situação orienta
o sentido do discurso, tanto na sua produção como na sua interpretação. Por isso,
muitas vezes, menos coeso e, aparentemente, menos claro pode funcionar melhor em
determinadas situações do que outro de configuração mais completa. É importante
notar que a situação comunicativa interfere na produção do texto, assim como
este tem reflexos sobre toda a situação, já que o texto não é um simples reflexo
do mundo real. O homem serve de mediador, com suas crenças e ideias, recriando a
situação. O mesmo objeto é descrito por duas pessoas distintamente, pois elas o
encaram de modo diverso. Muitos linguistas têm-se preocupado em desenvolver cada
um dos fatores citados, ressaltando sua importância na construção dos textos.
Texto completo
http://www.filologia.org.br/revista/40suple/a_construcao_de_texto.pdf
Texto completo
http://www.filologia.org.br/revista/40suple/a_construcao_de_texto.pdf
A COESÃO TEXTUAL
Para fazer
uma análise de alguns aspectos da coesão textual, escolhemos o trecho a seguir:
(19) Quem são
eles
1. Nas mãos deles, 169 milhões de vidas, o
destino de um país gigante e uma crise brutal, com risco até de congestões capazes
de ferimentos profundos no regime constitucional e na tranquilidade relativa dos
brasileiros. 2. Tudo foi dado a eles: o sacrifício de direitos, o sacrifício de
milhões de empregos, o sacrifício de incontáveis empresas brasileiras, o sacrifício
da legitimidade do Congresso, o sacrifício do patrimônio nacional, o sacrifício
da Constituição. E eles quebraram o país.
3. Quem são
eles? Um presidente abúlico, alheio a todas as realidades desprovidas de pompas
e reverências
e que só reconhece
um ser humano, por acaso ele próprio; avesso a administrar, por desconhecimento
agravado pela indecisão, e que se ocupa tanto de bater papo quanto não se ocupa
de trabalhar.
4. Como complemento,
um ministério apenas pró-forma, desautorizado pela evidência de que não foi
montado para ser competente, mas por negócio político.
E nele uma equipe
econômica dividida entre inseguros eternos, como Pedro Malan, e a audácia dos
imaturos no saber e na mentalidade, como Gustavo Franco e Francisco Lopes.
5. Em 36 horas,
entre quarta e sexta-feira, o presidente e seus orientadores econômicos submeteram
o Brasil a três sistemas cambiais. O dos últimos anos; o da repentina
desvalorização do real, na quarta-feira; e o recomendado na noite de quinta
pelo governo americano e o FMI (como relatou o "The New York Times"),
liberando o valor do dólar em relação ao real. Ou seja, desvalorizando ainda
mais o real. Nem no Haiti isso aconteceu alguma vez.
6. Não é
necessário, portanto, considerar o que eles fizeram em quatro anos para saber
do que são capazes contra a crise perigosa. Bastam as 36 horas de obtusidade e
de leviandade, com o presidente insistindo duas vezes em sair de férias a meio
do turbilhão que angustiava o país. (...) (Jânio de Freitas, Folha de S. Paulo,
17/02/98).
A partir de agora,
principalmente por questões de espaço, tentaremos fazer a análise do texto do
exemplo (19), considerando alguns mecanismos de coesão utilizados pelo locutor
do texto, para conseguir construir sua avaliação sobre os fatos econômicos e políticos
acontecidos na semana que precedeu a publicação do artigo.
Em primeiro lugar, o locutor inicia seu texto
com certa "estratégia de suspense". Ele anuncia que vai falar sobre
algumas pessoas (ver o título do artigo), mas não as identifica de pronto. No título,
o locutor mobiliza o pronome "eles" para iniciar a construção do
referente textual. Em geral, os textos são iniciados de outra maneira,
introduzindo o referente textual por meio de um nome, de um sintagma, de um fragmento
de oração, uma oração, ou todo um enunciado, que, "além de fornecerem, em grande
número de casos, instruções de concordância, contêm, também, instruções de
sentido, isto é, fazem referência a algo no mundo extralinguístico". No entanto,
o locutor desse texto prefere continuar com a "estratégia de suspense".
No primeiro parágrafo, as pessoas que serão tematizadas pelo texto são
designadas pelo pronome "deles", na expressão "Nas mãos deles
(...)". No início do segundo parágrafo, o locutor se refere às pessoas
sobre quem vai falar por meio do pronome "eles", no enunciado "Tudo
foi dado a eles". E finaliza esse parágrafo com o enunciado "E eles
quebraram o país".
Até aqui, portanto,
o locutor utilizou-se do recurso da pronominalização para atribuir ações às
pessoas de quem fala. Será apenas a partir do terceiro parágrafo que o locutor
vai nos desvendar o mistério sobre a identidade do referente textual. O locutor
faz, então, a pergunta: "Quem são eles?", e responde: "um
presidente abúlico" (terceiro parágrafo); "um ministério apenas pró-forma"
e "(...) e, nele, uma equipe econômica dividida entre os inseguros eternos,
como Pedro Malan, e a audácia dos imaturos no saber e na mentalidade, como
Gustavo Franco e Francisco Lopes" (quarto parágrafo).
Esse mecanismo
é o que Koch (1989) chamará de coesão referencial: "aquela em que um
componente da superfície do texto faz remissão a outros) elementos) do universo
textual'. No nosso exemplo, os pronomes utilizados nos dois primeiros
parágrafos fazem remissão aos sintagmas e às orações dos terceiro e quarto
parágrafos do texto. Como essa remissão foi feita para frente no texto, é
denominada catafórica. Podemos dizer que esse texto teve um início catafórico.
A partir do quarto parágrafo, as remissões serão anafóricas: as expressões "o
presidente e seus orientadores econômicos" remetem para trás, para as expressões
"um presidente" e "uma equipe econômica" respectivamente. A
anáfora, em geral, é um movimento de remissão mais comum, mais utilizado na
construção da referência. Iniciar um texto cataforicamente é menos comum,
apesar de ser um recurso argumentativo que começa a se fazer mais presente nos textos
jornalísticos, como é o caso do nosso exemplo.
Do ponto de vista
argumentativo, ficou bastante interessante a combinação da estratégia de
suspense na construção dos referentes textuais com a atribuição de um imenso poder
a este mesmo referente, pelo mecanismo sintático de apassivação, nos dois primeiros
parágrafos do texto: "nas mãos deles", estávamos todos nós e o destino
de nosso país; "tudo foi dado a eles"; e a enumeração bastante
enfática (pela repetição do sintagma) dos diferentes "sacrifícios" impostos
por "eles". Por último, o enunciado na voz ativa, atribuindo aos
referentes uma ação da maior gravidade: "E eles quebraram o país".
Essa
combinação fez com que a revelação da identidade dos referentes textuais fosse
mais marcante do ponto de vista argumentativo, já que antes desta identidade
ser revelada, a ela foram acrescentadas as imagens de um poder imenso que não
foi utilizado em benefício daqueles que a "eles" se entregaram. Um outro
mecanismo importante de coesão referencial presente neste texto é a definitivização.
Segundo Koch (1997), uma das regras para o emprego dos artigos como formas remissivas
é aquela em que um referente, ao ser introduzido por um artigo indefinido,
somente pode ser retomado por um artigo definido. Coerente com a estratégia de
suspense, o locutor utiliza-se ao máximo do expediente de iniciar os parágrafos
com referentes introduzidos por artigos indefinidos, como, por exemplo,
"(...) Um presidente..." (parágrafo 3), "(...) um
ministério..." (parágrafo 4), "(...) uma equipe econômica..."
(parágrafo 4), para somente, então, a partir do quinto parágrafo, começar a
desvendar o "eles" : "o presidente" (parágrafos 5 e 6) e "seus
orientadores econômicos" (parágrafo 5).
Poderíamos continuar
falando de outros mecanismos de coesão referencial utilizados pelo locutor nos
quatro primeiros parágrafos do texto: a elipse, no terceiro parágrafo:
"(um presidente) alheio a todas as realidades (...)", "(um presidente)
que só reconhece um ser humano, por acaso, ele próprio (...)", "(um
presidente) avesso a administrar (...)"; a remissão catafórica (para
frente) do pronome indefinido "tudo" aos diferentes "sacrifícios",
no segundo parágrafo; a remissão anafórica do pronome indefinido "isso"
aos enunciados anteriores, no quinto parágrafo; a repetição do sintagma "o
sacrifício", no segundo parágrafo, a repetição da expressão nominal definida
"o presidente", entre outros. Não seguiremos adiante na enumeração dos
mecanismos utilizados. O que nos interessa dizer, finalmente, sobre o mecanismo
da coesão referencial é que este não é utilizado ingenuamente, estando, na
maioria dos casos, a serviço dos objetivos do locutor no momento da produção de
seu texto. No exemplo (19), vimos que este mecanismo apoiou fortemente a
argumentação empreendida pelo locutor.
Passemos
agora à análise dos mecanismos de sequenciação' utilizados para a progressão do
texto do exemplo (19). A progressão do texto pode ser percebida pela forma como
o tema é, ao mesmo tempo, mantido e renovado. Este procedimento de manutenção temática
diz respeito à articulação entre a informação dada (tema) e a informação nova (rema).
No caso do exemplo (19), a sequenciação predominante é a chamada sequenciação
parafrástica, ou seja, aquela com procedimentos de recorrência. Um primeiro
exemplo dessa forma de sequenciação é a recorrência de estruturas sintáticas ou
o chamado "paralelismo sintático": "(...) o sacrifício de
direitos, o sacrifício de milhões de empregos, o sacrifício de incontáveis empresas
brasileiras, o sacrifício da legitimidade do Congresso, o sacrifício do patrimônio
nacional, o sacrifício da Constituição (...)" (segundo parágrafo). Um
outro exemplo desse mesmo recurso:
"(um presidente)
alheio a todas as realidades (...), (um presidente) avesso a administrar" (terceiro
parágrafo). A reiteração dos termos desempenha um papel fortemente
argumentativo, como se a repetição das estruturas funcionasse de forma que registrasse,
de maneira definitiva, na memória do leitor, as críticas feitas aos referentes
textuais.
Um outro exemplo
de sequenciação parafrástica é a recorrência de conteúdos semânticos ou
paráfrase. No texto de Jânio de Freitas, a paráfrase é feita no final do quinto
parágrafo, introduzida pela expressão "ou seja": "(...) e o recomendado
na noite de quinta-feira pelo governo americano e o FMI (como relatou "The
New York Times"), liberando o valor do dólar em relação ao real. Ou seja,
desvalorizando ainda mais o real". A paráfrase aqui presente serve para
reforçar o encadeamento discursivo que o locutor do texto vai estabelecer logo a
seguir, introduzido pelo operador "nem": "Nem no Haiti isso aconteceu
alguma vez".
O encadeamento
discursivo estabelecido é o de conjunção, efetuado por operadores, como "é",
"também", "não só... mas também", "tanto...
como", "além de", "além disso", "ainda",
"nem", que ligam enunciados que constituem argumentos para uma mesma
conclusão. No caso de nosso exemplo, o relato feito pelo locutor, ao longo do
quinto parágrafo, só servirá de reforço para o argumento de incompetência e
má-gestão dos governantes ante a crise que se abateu sobre o país naquela semana.
Além disso, implicitamente, coloca esta gestão em comparação com o governo do
Haiti, país famoso por suas injustiças sociais, violências e instabilidade
econômica. Não tivemos a pretensão de esgotar a análise dos recursos coesivos presentes
nesse texto. Apenas estivemos fazendo um exercício de observação de alguns
recursos coesivos importantes, mobilizados pelo locutor na construção de sua
argumentação.
REFERÊNCIAS
KOCH, 1. G. V. Argumentação e
linguagem. São Paulo, Cortez Editora, 1987.
________ A coesão textual. São
Paulo, Contexto, 1989.
________ O texto e a construção
dos sentidos. São Paulo, Contexto, 1997.
Para melhor entendimento leia
COERÊNCIA: DE QUE DEPENDE, COMO SE ESTABELECE.
Considerações gerais
Por tudo o que já dissemos até agora,
fica mais do que evidenciado que a coerência se estabelece na dependência de uma
multiplicidade de fatores, o que inclusive levou a uma abordagem multidisciplinar
dessa mesma coerência. Uma vez que ela passou a ser vista como um princípio de
interpretabilidade do texto, tudo o que afeta (auxilia, possibilita ou
dificulta, impede) essa interpretação do texto tem a ver com o estabelecimento
da coerência. Os estudos sobre coerência, abstraídas as questões de ênfase e explicitude
dos fatores abordados, são quase unânimes em postular que o estabelecimento da
coerência depende: a) de elementos linguísticos (seu conhecimento e uso), bem como,
evidentemente, da sua organização em uma cadeia linguística e como e onde cada elemento
se encaixa nesta cadeia, isto é, do contexto linguístico; b) do conhecimento de
mundo (largamente explorado pela semântica cognitiva e/ou procedural), bem como
o grau em que esse conhecimento é partilhado pelo(s) produtor(es) e
receptor(es) do texto, o que se reflete na estrutura informacional do texto,
entendida como a distribuição da informação nova e dada nos enunciados e no
texto, em função de fatores diversos; c) de fatores pragmáticos e
interacionais, tais como o contexto situacional, os interlocutores em si, suas crenças
e intenções comunicativas, a função comunicativa do texto.
Evidentemente, cada um destes
fatores se relaciona com outros fatores. Assim, o conhecimento de mundo terá a
ver, na interpretação, com a construção de um mundo textual e sua adequação aos
modelos de mundo do produtor e receptor do texto. Essa construção do mundo
textual vai depender largamente das inferências que o interpretador faz ou pode
fazer. Em nível semântico, tal conhecimento de mundo terá a ver com o
estabelecimento de uma unidade/continuidade de sentido, um sentido único para o
todo. Ligada ainda ao conhecimento de mundo, temos a questão da
informatividade, que diz respeito à previsibilidade/ imprevisibilidade da
informação dentro do mundo textual .
0 contexto situacional se relaciona
tanto com o nível semântico e o conhecimento de mundo, como, por exemplo, na
identificação de referentes deiticamente indicados, quanto com o nível
pragmático, quando, por exemplo, só se pode identificar que ato de fala é executado
por um enunciado por saber situacionalmente que temos um patrão falando com o empregado
numa fábrica. Retornaremos a estas questões no item sobre situacionalidade.
Pragmaticamente, princípios conversacionais, como os de Grice (1975), podem afetar
o estabelecimento da coerência. Grice estabelece, como postulado básico que
rege a comunicação humana, o Princípio da Cooperação ("Faça sua
contribuição conversacional tal como é requerida no momento em que ocorre pelo
propósito ou direção do intercâmbio em que está engajado") do qual
decorrem quatro máximas:
a) Máxima da Quantidade ("Faça
que sua contribuição seja tão informativa quanto for requerido para o propósito
corrente da conversação; não a faça mais informativa do que o requerido");
b) Máxima da Qualidade ("Não diga o que acredita ser falso; não diga senão
aquilo para o que você possa fornecer evidência adequada"); c) Máxima da
Relação ("Seja relevante pertinente): d) Máxima do Modo ("Seja
claro").
Charolles e Franck apresentam o princípio
da cooperação como básico no processo de interpretação que leva ao
estabelecimento da coerência: os usuários sempre se assumem mutuamente como
cooperativos e, portanto, creem que a sequência linguística a ser interpretada foi
produzida para ser um texto coerente, quer os sinais de coerência se manifestem
diretamente na superfície linguística ou não. Isto se explica por meio dos
princípios de textualidade que abordamos em 4.8., a saber, a intencionalidade e
aceitabilidade. Charolles (1987) enfatiza que a coerência é estreitamente
dependente do interpretador que recebe o texto e busca interpretá-lo, usando
seus conhecimentos linguísticos, de mundo etc.
Nos textos conversacionais orais,
elementos paralinguísticos também atuam no estabelecimento da coerência: olhar,
movimentos do corpo (Goodwin, 1981), expressão facial, posturas corporais, interação
corporal (proximidade, toques etc.), gestos (dêiticos ou não) podem dar o
sentido ou modificar totalmente o sentido do que se enuncia, afetando, pois, a
coerência. Van Dijk (1981) apresenta a seguinte lista: movimentos dêiticos, outros
gestos, expressão facial, movimentos do corpo e interação corporal, como
afetando a identificação de atos de fala realizados através dos enunciados.
Sabemos que, em muitos casos, tais elementos afetam o enunciado também no que
respeita a seu sentido não pragmático, proposicional. Outros elementos que
afetam o cálculo do sentido e, portanto, a coerência, apenas no oral, são a
entonação e fatores prosódicos em geral, como velocidade e ritmo de fala.
A coerência depende também da
observação de certas convenções sociais de como se devem realizar certos atos
de fala. Assim, por exemplo, a fala do doente mental não se preocupa com o
significado social das ligações que faz e, por isso, soa incoerente. Charolles (1978)
propõe quatro meta-regras de coerência: repetição, progressão, não contradição
e relação. Segundo a meta-regra de repetição, um texto, para ser coerente, deve
conter, em seu desenvolvimento linear, elementos de recorrência estrita. A
meta-regra de progressão diz que, para que um texto seja coerente, é preciso
haver no seu desenvolvimento uma contribuição semântica constantemente
renovada.
0 que se depreende dessas duas
regras é que, em todo texto, deve haver retomadas de elementos já enunciados e,
ao mesmo tempo, acréscimo de informação. São estas idas e vindas que permitem
construir textualmente a coerência. As retomadas são feitas, em grande parte,
por meio dos mecanismos de coesão referencial e, na progressão, exercem papel importante
os mecanismos de coesão sequencial (cf. Koch, 1989). Isto é, a coerência
manifesta-se parcialmente no texto através dos mecanismos coesivos. Segundo a
meta-regra de não-contradição, para o texto ser coerente, "é preciso que
no seu desenvolvimento não se introduza nenhum elemento semântico que
contradiga um conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência anterior, ou
deduzível desta por inferência". Já pela meta-regra de relação o texto será
coerente se "os f atos que se denotam no mundo representado estejam relacionados".
Posteriormente, Charolles (1979) propõe o acréscimo da meta-regra de
macroestrutura, tomada de empréstimo a Van Dijk.
Nas seções seguintes, buscaremos
explicitar como cada tipo de fator e/ou cada fator em particular concorre para
o estabelecimento da coerência.
4.2. Conhecimento linguístico
Todos os estudiosos são unânimes
em admitir que os elementos linguísticos têm grande importância para o
estabelecimento da coerência, embora Brown e Yule (1983) afirmem que é ilusão
pensar que entendemos o significado de uma mensagem com base apenas nas
palavras e na sintaxe. Buscando evidenciar que a compreensão depende de nosso
conhecimento de mundo e de fatores pragmáticos, dão exemplos de mensagens
linguísticas que não têm a forma de frase, semelhantes ao exemplo (12).
(12) Exemplo semelhante ao de
Brown e Yule é o do aviso transcrito abaixo e afixado no quadro de avisos junto
à entrada da biblioteca de uma instituição que se dedica ao estudo da
linguagem.
Colóquios
0 discurso narrativo dos mitos indígenas Prof. Dr. João da Silva ï.'
feira, 20-10-1988
14 horas
Auditório 111
A compreensão deste aviso, cujos
elementos linguísticos não chegam a constituir uma frase, depende pelo menos
dos seguintes conhecimentos do produtor e receptor do texto, não presentes no
aviso:
a) que os colóquios são reuniões
de professores e alunos da instituição e outros interessados em que um
pesquisador (da instituição ou não) expõe um trabalho seu em andamento ou
concluído, seguindo-se à exposição discussões sobre o assunto; b) que o assunto
é de linguística; c) quem é o Professor e quais suas qualificações; e d) onde é
o Auditório III.
Vimos que é a coerência que
determina, em última instância, que elementos vão constituir a estrutura
superficial linguística do texto e como eles vão estar encadeados na sequência
linguística superficial, e isto é suficiente para deixar claro que a
recuperação desta coerência passa pelas marcas linguísticas. Muitos autores
inclusive chamam a atenção para a relação do linguístico com o
conceitual-cognitivo (conhecimento de mundo) e com o pragmático, o que reforça
ainda mais a importância das marcas linguísticas como pistas para o cálculo do
sentido e, portanto, da coerência do texto.
Conhecimento de mundo
Se o conhecimento linguístico é
necessário para o cálculo da coerência, todos os estudiosos são unânimes em
afirmar que tal conhecimento é apenas parte do que usamos para interpretar um
texto e, portanto, para estabelecer sua coerência. 0 estabelecimento do sentido
de um texto depende em grande parte do conhecimento de mundo dos seus usuários,
porque é só este conhecimento que vai permitir a realização de processos
cruciais para a compreensão, a saber:
a) a construção de um mundo
textual. A esse mundo se ligam crenças sobre mundos possíveis na concepção dos
usuários, o que passa pelo modo como o receptor vê o texto: falando de um mundo
real? de ficção? etc. Isto influencia decisivamente se ele vai ver o texto como
coerente ou incoerente. Além disso, para haver compreensão é preciso que o
mundo textual do emissor e do receptor tenham certo grau de similaridade. 0
mundo textual, a representação do mundo pelo texto, nunca coincide exatamente
com o "mundo real", porque há sempre a mediação dos conhecimentos de
mundo (que podem ser mais ou menos amplos), dos interesses e dos objetivos de
quem produz (fala, escreve) o texto e de quem o recebe (ouve, lê) e interpreta,
buscando seu sentido. Para que a coerência do texto possa ser estabelecida é
preciso haver correspondência, ao menos parcial, entre os conhecimentos
ativados a partir do texto e o conhecimento de mundo do receptor, armazenado em
sua memória de longo termo;
b) o relacionamento de elementos
do texto (frases, partes do texto), aparentemente sem relação, através de
inferências;
c) o estabelecimento da
continuidade de sentido, através do conhecimento ativado pelas expressões do
texto na forma de conceitos e modelos cognitivos;
d) a construção da macroestrutura.
0 conhecimento de mundo é visto como uma espécie de dicionário enciclopédico do
mundo e da cultura arquivado na memória. Vários estudos tratam da memória
falando em memória semântica e episódica ou em memória de longo termo (ou
permanente), de médio termo (ou operacional) e de curto termo (ou temporária).
As memórias semântica e episódica podem ser encaixadas na memória de longo termo.
Por isso vamos caracterizar apenas as três últimas, utilizando principalmente
as formulações de Kato (1986). A memória temporária é o lugar onde podemos
armazenar sequências de números ou de palavras e tem uma capacidade de
armazenagem limitada, conforme alguns estudos, a sete itens. A memória
operacionál é o lugar onde o conteúdo proposicional é armazenado, não tendo
limitação quantitativa. Nela ocorre recodificação dos elementos da memória
temporária com uma abstração da forma, através da associação de seu conteúdo
proposicional a uma informação prévia do indivíduo. Os conceitos são aí
ativados como unidades de sentido. A memória permanente é o espaço de
armazenagem e organização de todo o nosso conhecimento de mundo, incluindo o
conhecimento linguístico, conceitos, modelos cognitivos globais, fatos
generalizados e episódios particulares provenientes da experiência de cada
indivíduo.
Inferências
Outro fator importante para a compreensão
e o estabelecimento da coerência de um texto, ligado ao conhecimento de mundo,
são as inferências. Basicamente se entende por inferência aquilo que se usa
para estabelecer uma relação, não explícita no texto, entre dois elementos
desse texto. Beaugrande e Dressier (1981) dizem que inferência é a operação que
consiste em suprir conceitos e relações razoáveis para preencher lacunas
(vazios) e descontinuidades em um mundo textual.
Para eles, o inferenciamento
busca, pois, sempre resolver um problema de continuidade de sentido. Para Brown
e Yule (1983), inferências são conexões que as pessoas fazem quando tentam alcançar
uma interpretação do que leem ou ouvem, isto é, é o processo através do qual o
leitor (ou ouvinte) consegue captar, a partir do significado literal do que é
escrito ou dito, o que o escritor (falante) pretendia veicular. A inferência é
sempre vista como uma "assunção ligadora", isto é, que estabelece uma
relação entre duas ideias do discurso.
Como surgem as inferências?
Evidentemente de uma necessidade e do conhecimento de mundo do leitor ou
ouvinte. Charolles (1987a) diz que o processo de interpretação e
reinterpretação é comandado pelo princípio da coerência, que leva aquele que interpreta
o texto a construir relações que não estão expressas nos dados do texto: estas relações
são as inferências que podem ser ou não linguisticamente fundadas. Observa que
os linguistas se põem como tarefa separar as inferências linguisticamente
fundadas das não linguisticamente fundadas. Nesta tarefa, alguns sobrecarregam o
léxico (enciclopédico) de seus sistemas com o fim de manter o máximo de
inferências dentro do domínio linguístico, mas observa-se que as determinações
linguísticas cedem cada vez mais terreno a outras determinações, como as
psicológicas. Charolles (1987) propõe uma classificação das inferências em
diferentes tipos:
a) substanciais, inalienáveis ou
necessárias: que seriam aquelas a que não podemos fugir, que são
obrigatoriamente feitas (exemplos 29 a 31).
(29) João tem um Scort XR3 -->
João tem um carro.
b) "convidadas" ou
possíveis: que podem ou não ser feitas.
(30) João tem um Scort -->
João tem carteira de motorista.
c) contextuais: que variam com o
contexto.
(31) Você sabia que o João parou
de fumar?
substancial: João fumava antes.
contextual: Pode haver uma reprovação
nessa pergunta, se ela é feita com o propósito de
censurar o interlocutor que não
quer parar de fumar.
Esse tipo de inferência é que
ocorre nos atos de fala indiretos.
(32) Você pode me passar o sal?
--> Ele quer o sal.
d) retroativas ou para trás: são
as que se fazem sobre o sentido de um termo ou expressão a partir de algo dito
posteriormente.
(33) Pedro tem um grilo.
a) Alimenta-o todos os dias. animal
b) Não sabe se a namorada gosta dele.
preocupação.
Beaugrande e Dressier (1981:102)
apresentam objeções ao uso das inferências na explicação do processo de compreensão
de textos ou como parte do modelo que representaria esse processo por duas razões:
primeiro, porque as inferências admitidas neste processo seriam escolhidas arbitrariamente
e, segundo, porque as inferências admitidas são poucas, uma vez que os usuários
podem fazer muitas outras.
Sempre se podem fazer muitas inferências
a partir dos elementos de um texto. Como limitar essas inferências apenas às
necessárias e/ou relevantes à interpretação autorizada pelo texto e desejada
pelo seu produtor? De acordo com Brown e Yule (1983), um problema que se levanta
para toda tentativa de incorporar o conhecimento do mundo ao processo de
compreensão do texto é encontrar um meio de limitar a incorporação de dados
desse conhecimento ao estritamente relevante, na interação.
Alguns meios que executariam essa
difícil tarefa de limitar as inferências seriam:
a) o contexto, que pode ser o contexto
linguístico (ou co-texto) e o contexto de situação (contexto sociocultural,
circunstancial). A atuação do co-texto é questionada por Brown e Yule (1983),
que dizem que os elementos do contexto linguístico não dão base ao analista
para determinar as inferências que realmente são feitas, porque a ação de inferir
fica como um processo que é dependente do contexto específico do texto e
localizado no leitor (ou ouvinte) individual;
b) a cooperação retórica, em
termos de aceitação de argumentos;
c) a força ilocuciondria do
enunciado e a tarefa do ouvinte (ou leitor);
d) a localização, a que Charolles
(1987) se refere como "filtragem pelo alto". (Sobre focalização, cf.
4.9.) Diante da dificuldade de limitação das inferências, poder-se-ia considerar
ideal que se construíssem textos que exigissem poucas (ou nenhuma) inferências para
sua compreensão.
Intertextualidade
Conforme Beaugrande e Dressier, a
intertextualidade compreende as diversas maneiras pelas quais a produção e recepção
de dado texto depende do conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores,
isto é, diz respeito aos fatores que tornam a utilização de um texto dependente
de um ou mais textos previamente existentes.
Tais maneiras, a nosso ver, incluem
fatores relativos a conteúdo, fatores formais e fatores ligados a tipos
textuais.
Os fatores ligados a conteúdo são
bastante evidentes e se ligam a questões de conhecimento de mundo. Um exemplo seria
o fato de nos referirmos, neste texto, a atos de fala, força ilocucionária, condições
de felicidade sem nos preocuparmos em explicar o que sejam, remetendo, intertextualmente,
a outros textos da ciência linguística que tratam do assunto. Dessa forma, o entendimento
desse texto depende do conhecimento de outros e, portanto, também sua
coerência. Outro exemplo seria o de matérias jornalísticas que cobrem um mesmo fato,
durante vários dias. Cada artigo pressupõe que os leitores conheçam os artigos sobre
o mesmo assunto publicados anteriormente, estabelecendo com eles a inter-textualidade.
Não nos estenderemos mais nas questões intertextuais ligadas ao conteúdo.
Quanto à intertextualidade de
caráter formal, ela pode estar ou não vinculada à tipologia textual. Limitarnos-emos
aqui a dar exemplos não ligados à tipologia, já que o aspecto tipológico é
tratado a seguir. Há textos que mantêm intertextualidade com a Bíblia por lhe imitarem
a forma. Naturalmente, quem ler estes textos, sem conhecer a Bíblia, pode até
atribuir-lhes um sentido, mas certamente deixará de perceber muitas das
significações pretendidas pelo produtor dos mesmos. É o caso também do texto
"Grande ser, tão veredas" de Paulo Leminski, publicado na Folha de S.
Paulo, que remete, pelo título, mas sobretudo pela forma em que é escrito, a
Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa.
REFERÊNCIAS - Fonte do texto anexo.
a)
FÁVERO, L.L Coesão e coerência textuais. São
Paulo: Ática, 2000.
b) KOCH I. G. V. e TRAVAGLIA, L.
C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1989.
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