domingo, 23 de junho de 2013

Multimodalidades da fala e da escrita

Multimodalidades da fala e da escrita

 
Prof. Ms. Neilton Farias Lins

O uso da linguagem demanda ações praticadas de formas individuais ou mesmo sociais, essa prática se dá por manifestações sócio discursivas, as quais, são realizadas em um gênero textual, seja ele escrito ou oral. Nesse aspecto, é necessário que se concorde com o que defende (BAZERMAN, 1997, p. 9), gêneros “não são apenas formas”, mas “quadros de ações sociais”.
Quando alguém interage de forma falada, na sua mais simples forma (conversação) ou nas mais complexas, mediadas por recursos da tecnologia (bate-papo virtual, celular, redes sociais, dentre outros), está submerso num diálogo multimodal. Ao se ler um texto escrito á mão, texto impresso, ou em um computador, diante destas situações o sujeito estará envolvido em diálogo multimodal. Isso leva a inferir que os gêneros falados e escritos são multimodais, porque quando se fala ou se escreve um texto, é usado, pelo menos, duas maneiras para essa ação: palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens, palavras e tipografia, palavras e sorrisos, palavras e animações, etc. Nessa perspectiva, é possível inferir que a multimodalidade dialógica é um traço constitutivo a todos os gêneros textuais escritos e orais.
Até muito tempo, achou-se que a fala e a escrita eram consideradas modalidades da língua com características próprias e restritas em sua forma de realização, que tais modalidades não poderiam se apresentar de muitas maneiras, ou melhor, a língua se dava na escrita de uma única forma, como no livro ou revista, a fala apenas na sua forma primitiva a conversação.
Entretanto, Linguística tem mostrado que ao falar, é usado não apenas a voz como também o corpo, além disso, também entra em uso no momento da interação, segundo Kerbrat-Orecchioni (2006, p. 39) elementos tais como os paraverbais, não verbais, a tonalidade da voz que pode sinalizar uma pergunta, uma reclamação, um elogio, uma crítica, por exemplo.
Uma filha chega para mãe, vestida de uma roupa que acaba de comprar e pergunta se ela gostou, imediatamente a genitora abre um sorriso um tanto sarcástico e responde que sim. No entendimento da filha, duas possibilidades poderá tirar como resposta. Digamos que baseado na afirmativa da mãe, use o sim como resposta, se, no entanto, a filha observar os não verbais da mãe, verá que houve uma ironia, o que ela quis dizer, disse não com palavras, mas com os não verbais. Baseado nesse principio é possível inferir a fala é multimodal, pois sua realização se dá não apenas por meio de recursos verbais, mas através de paraverbais e não verbais. No exemplo citado foi usado dois modos de construção das informações envolvidas no ato de fala.
Na realização de enunciados falados, expressões faciais, determinados timbres de voz, o olhar, o riso, uma gesticulação com a cabeça, ajuda de forma contundente para construção do sentido do linguístico do que é dito, mais ainda, substitui um enunciado da língua nas conversações ou processo interacional face a face. Daí, é necessário afirmar que as conversas espontâneas construídas no dia-dia estão abarrotadas do misto do verbal e do não verbal.
Considere o exemplo:

(1)Transcrição 02[1]
L1 – belo discurso seu! quer dizer enTÃO::: que tu ((L1aponta para L2)), vai descer do alto? sentar no trono. colocar suas mãos puras e santas nos meus::((L1 bate no peito como um forma de demonstração de poder sobre aquelas pessoas)) cachorrinhos sujos, É:::?
L2 – se for preciso sim, porque ainda há santos na minha presença, dispostos a me honrar, me adorar, me servir. ((L2 aponta para L1)) agora seus SERvos satanás são todos movidos pelo prazer.
L1 – então vai, ((gesticula com se estivesse expulsando L2)) usa teus servos em vão, porque o inferno para onde muitos vão ((L1 aponta para a plateia como se estivesse envolvendo a mesma na peça e as predestinando ao inferno)) é muito pior.
L1 – vamos brincar?
L1- eu vou brincar de te acusar, ((L1 aponta para L2, mostrando que é ele que será acusado)) mostrarei o seu pecado de estimação:::((L1 pisa no chão com violência como forma de insulto)) aqui em cima ou quer dizer que vocês também não tem pecado.
L1 – e vocês ((aponta para plateia)) querem brincar ou não?

Os elementos não verbais estão nessa transcrição apresentados dentro de dois parênteses duplos, o que para regra de transcrição da fala se dão quando o documentador faz um comentário que não pode ser do texto falado, mas trata-se de não verbais ou paralinguísticos, no primeiro turno dessa transcrição, o documentador tenta informar o que ouve, e no caso, ele diz que L1 usa o dedo apontando para L2 como se tentasse mostrar com quem falava, além disso, L2 também queria que L1 soubesse sua fala se referia a ele. Já no segundo comentário desse turno, L1 usa as próprias mãos para mostrar para seu interlocutor que os cachorrinhos a que ele se referia em seu turno eram propriedades dele.
No terceiro turno, que se tratar do segundo turno de L1, o esse usa as mãos, gesticulando de forma que L2 compreendesse que deveria sair dali, segundo o comando de L1, assim como também, estivesse dizendo a L2 que quem mandava ali era L1, no segundo comentário desse turno, L1 gesticula tentando de certa forma envolver a plateia em seu discurso, dando-lhe uma alerta de que essa seria a condição de todos os quais viessem se envolver com a mesma situação a que se encontravam as personagens da peça teatral. Os elementos não verbais e paralinguísticos tendem a seguir os elementos verbais nos textos falados, os quais podem ser reformulações do gênero escrito, os quais se dão, por exemplo, nos textos escritos de peças teatrais e roteiros de filmes, como se vê no fragmento apresentado anteriormente.
A grande maioria dos os gêneros textuais escritos são multimodais, mas há de convir, que nem todos os gêneros visuais são multimodais. Considere as fotos:


O pôster (imagem 02) de Barack Obama é multimodal, entretanto como, a foto (Imagem 01) do Presidente não é multimodal, uma vez que a referida foto tem apenas uma leitura, não possui outros elementos constitutivos da língua nessa foto. Entretanto, o pôster em que Barack Obama se dirige a alguém, apontando o dedo, como se olhasse nos olhos de seus interlocutores, tem uma força muito grande, isso é perceptível pelos reforços de elementos postos, não apenas na escrita que diz: SOCIALISTA: falando do dinheiro dos outros ganhos de forma dura e ao fato de dar esse dinheiro aos empreendedores inferiores, mas também nos gesto de apontar, se dirigindo diretamente ao seu interlocutor, além disso, o olhar fixo no interlocutor.[2]
Nessa perspectiva, infere-se que a essas duas modalidades da língua possuem outras modalidades, e seria inútil querer reduzir a analise da fala e a escrita levando em consideração critérios descontextualizado de seus usos.


[1] A análise semiótica das fotos aqui surge na expectativa de demonstrar apenas que nem todos os gêneros visuais se constitui multimodal.


[2] Retirado da Segunda Transcrição de uma peça teatral, o qual é elemento de análise da minha Dissertação de Mestrado intitulada "O processo de oralização de um texto escrito - UFAL".


sexta-feira, 29 de março de 2013

O PROCESSO DE REFERENCIAÇÃO


      AS RELAÇÕES  ENTRE TEXTO, CONTEXTO E INTERTEXTUALIDADE NA PRODUÇÃO DE SENTIDO.

Considerando as postulações bakhtinianas de que todo enunciado se constitui em uma resposta a outro enunciado anterior, é possível afirmar que, um texto mantém relações com outros textos anteriores e contextos, uma espécie de referenciação.
O conceito de contexto pode variar conforme a relação entre um autor, autor e o momento histórico-discursivo, assim como também, mesmo autor, mesmo momento histórico-discursivo e sentido diferente, e ainda assim, o contexto nas diversas áreas de conhecimentos. Apesar do exposto, é possível elencar algumas características conceituais para contexto, tais como, um evento se encontra inserido.
Em um processo de interação os sujeitos dos discursos carrega certa gama de conhecimento, isso já é considerado um contexto. A partir da interação esse contexto é alterado, ampliado, fazendo com que os interactantes se ajustem aos novos contextos que vão surgindo, embora, com características díspares, o contexto pode se assemelhado à situacionalidade, visto que um texto pode surgir a partir de um determinado contexto, assim como, um contexto pode gerar um texto.
No primeiro caso, temos um contexto capaz de produzir uma ação discursiva, no segundo caso, temos um texto gerador de um contexto. Marcuschi (2008) diz que “não há produção de sentido a não ser em contexto de uso”. De igual modo Antunes(2010) enfatiza que, “nenhum texto, ocorre no vazio, em abstrato, fora de um contexto sociocultural determinado”. Para essa mesma autora o texto está ancorado numa situação concreta.
O contexto gerador de novos (con)textos pode surgir de outros já existentes. Antunes(2010) diz que “nossa voz carrega necessariamente as vozes de todos que nos antecederam, tenhamos consciência disso ou não”. Isso se configura em intertextualidade para a referida autora, a mesma enfatiza ainda que, “nenhum texto absolutamente original, nem pertence por inteiro à autoria de quem o disse ou escreveu”. Assim, é possível inferir que há possibilidade de parafrasear um enunciado do outro, depois recuperá-lo. Assim, um texto manifesta não só a relação com outros textos, mas também em relação ao locutor como enunciador do outro.
Nossos textos estão carregados de enunciados de outros textos, que leva a inferência de que as palavras dos outros introduzem valores e expressivos em nossos enunciados. Esses aspectos do texto levam ao entendimento de que todos os textos criados são na verdade a continuidades de outros anteriores. Assim, a definição de originalidade em um texto está em que nunca ser a primeira palavra. Logo, as memórias textuais dos outros, antes de nós, convivem em nossos textos.
Isso corrobora ao fato de que a intertextualidade é inevitável, isto é, é um elemento essencial na produção de um texto ou na produção de sentido. Assim como as demais categorias de análise, o intertexto é uma das principais propriedades de qualquer texto, assim como a coesão, coerência, principalmente por a intertextualidade ser um dos fatores cooperativo da coerência.
Seja no sentido restrito ou amplo, de qualquer forma, a produção e análise de um texto está ligada ao conhecimento que o leitor/falante possui de outros textos, o que implica na interferência desses textos na construção de sentido.
Nessa perspectiva, ao se escrever é feito uso de textos de outros enunciadores para demarcar um posicionamento para apoiar as concepções que se defende. O que subentende que não apenas o escritor, assim como todas as pessoas com quem o texto se apoiou na defesa dos argumentos.
De forma implícita ou explícita o texto do outro está embutida no que é produzido. Isso implica que um texto fora do texto influencia na construção do sentido, não só isso, mas a defesa feita em meus textos não é minha, é apenas uma voz de outros textos, isso, pelo fato de que um discurso remete a outro e tudo se dá como se o que tem a dizer trouxesse pelo menos em parte um já dito, e que qualquer texto tem sua contribuição na semelhança de mosaico de citações.




_________________________________________________________________________________



COMPREENSÃO E ANÁLISE DE TEXTO: FUNDAMENTOS, CRITÉRIOS E ASPECTOS PRÁTICOS.

Neilton Farias Lins


Antes de compreender e analisar texto é necessário definir o que é texto, antes, porém, cabe a definição de textualidade. Antunes (2010) define textualidade como “característica estrutural das atividades sócio comunicativas executadas entre parceiros da comunicação”.
Para referida autora (op. cit. pg.29) qualquer interação verbal se dá por meio de um gênero textual, logo, o modo de manifestação da ação comunicativa será a textualidade. Assim, qualquer que seja a manifestação da interação verbal estabelecida por meio da textualidade, o que exclui a possibilidade de haver uma ação de linguagem sem que não tenha vinculação à textualidade.
O que corrobora o pensamento de Schmidt (1978) em que o mesmo enfatiza dizendo que “Desde que ela existe, a comunicação se dá de forma textual”. Pelo exposto é possível inferir que a textualidade não acontece em situações descontextualizadas ou em abstrações, visto que, o texto se revela nos usos concretos da língua.
Nesse contexto, conceito de texto é intrínseco a concepção de língua adotada. Por exemplo, na concepção de língua como representação do pensamento, o texto é visto como produto lógico do pensamento do autor, nada mais cabendo ao texto ou ouvinte se não captar essa representação mental. Na concepção de língua como um código, mero instrumento de comunicação, o texto é visto como simples produto de codificação do emissor/falante decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a esse conhecimento do código utilizado, por fim, e não menos importante, a concepção interacional ou dialógica da língua, o texto passa a ser considerado o lugar da interação e os interlocutores como sujeitos ativos, que nele se constroem e são construídos.
A concepção que este texto se vincula e a que compreende o texto ou a própria língua como uma atividade interativa, não apenas como uma representação mental ou decodificação de mensagem, resultante da codificação de um emissor. O sentido do texto, é portanto, construído na interação sujeito-texto  ou texto como co-enunciador e não como algo que preexiste a essa interação.
Para Marcuschi (2012) o texto forma uma rede, e várias dimensões, não é um resultado automática de uma série finita de pontos que se usam algumas regras recorrentes, observando uma boa formação. É antes uma unidade comunicativa atual, realizada tanto no nível do uso como no nível do sistema. Para esse mesmo autor o texto é uma unidade concreta e atual, não podendo tratá-la como fenômeno abstrato. Isso corrobora para o pensamento de que o texto deve ser visto como uma sequência de atos de linguagem, escritos ou falados, não uma sequência de frases de algum modo coesas.
Assim, o texto não é uma unidade formal que pode ser definida e determinada, como um conjunto de propriedade puramente componenciais e intrínsecas. Também não é possível dá um conjunto de regras formais que possam gerar textos adequados. Imagine-se a dificuldade que se teria ao propor regras para produção de todos os gêneros ou regras para obtenção de determinado efeito, tal ideia seria basicamente impossível. Tal pensamento defendido por Marcuschi  (2008) se afina com o que defende Halliday & Hasan (1976) os quais dizem que o texto não é um simples encadeamento de frase, que não deve de forma alguma ser visto como uma unidade gramatical.
Todo esse aparato teórico sobre o texto leva a inferir que usar a língua é uma forma de agir socialmente, uma forma de interagir com os outros, e de que essas coisas somente acontecem em textos. O que também amplia a conceituação de textualidade, visto que seria a pretensão de considerar a condição de que tem a língua de somente ocorrer sobre formas de textos. Em outras palavras falamos ou escrevemos somente por meio de textos.
Esse pensamento surge na expectativa de expor, contraditar distorções ensinadas em sala de aula, de que o texto é apenas o escrito, contrariamente a isso as teorias linguísticas mostram que o texto se caracteriza pelas manifestações escritas e faladas, ainda assim, pela ação verbal entre dois ou mais interactantes falantes/ouvintes, escritor/leitor, que em determinada situação discursiva produzem juntamente o sentido do texto. Tudo isso leva ao entendimento de que o sentido do texto é negociado e co-negociado entre os sujeitos da interação, e que ninguém fala ou escreve de forma a não se fazer entender e que os sentidos do texto é construído na relação entre esses sujeitos.
Nessa perspectiva, compor um texto é promover uma interação ao tempo, linguística e social. Isso tem como inferência de que precisa ser visto como uma intervenção histórica de determinado sujeito para outro ou outros sujeitos.
É preciso lembrar ainda, que os textos possuem algumas características importantes para a análise. A primeira é que o texto difere enormemente, pois depende da multiplicidade de propósitos que envolve. Segunda que os textos obedecem a certos padrões mais ou menos fixos, são, pois uma espécie de modelos resultantes de convenção preestabelecidas entre comunidades em que circulam ou servem determinados textos. E por último, os textos se organizam em estruturas típicas, as quais, por sua vez se compõem de blocos ou partes, cada uma deve desempenhar uma função também determinada, os mesmos possuem elementos obrigatoriamente opcionais.
O texto não pode ser feito de qualquer jeito, mas deve ser regulado por um conjunto de propriedade, as quais se constituem uma rede de relações, ou seja, assume um caráter inteiramente relacional, de modo que a aplicação de qualquer uma delas revela-se independente da aplicação dos outros do conjunto. Daí porque não aceitar ou concordar com a teoria que ver o texto apenas com objeto meramente linguístico, denominado apenas por regras gramaticais e lexicais.
Isso corrobora com a ideia de que construir um texto, não implica necessariamente ou simplesmente com conceito de juntar palavras ou justapor uma série de frases, por bem mais formadas que estejam, vai, além disso, é a rede de relações que se estabelece pela coesão de natureza semântica construída na ideia de que os textos se apoiam em outros,  e que o sentido dos mesmos não está apenas nas palavras que constam na superfície, nem nos limites da gramática, mas o sentido é construído ou é o resultado da confluência de elementos que estão dentro e fora dele.
Nesse aspecto, é possível inferir que o leitor para compreender um texto precisa mobilizar diferentes tipos de conhecimentos, tais como, conhecimento de gramática, de léxico, etc., semelhantemente, o conhecimento textual em que o leitor se apropria da capacidade de aprender o que é tipologia textual, e não menos importante, o conhecimento de mundo, que decorre da familiaridade do esquema de organização e experiências.
Analisar textos é procurar descobrir, entre outros pontos seu esquema de composição; sua orientação temática, seu propósito comunicativo; procurar identificar suas partes constituintes. Além disso, é procurar descobrir o conjunto de suas regularidades, daquilo que costuma ocorrer na sua produção e circulação. É necessário salientar que descobrir regularidades textuais é mais do que perguntar sobre “o que diz o autor?”. É, além disso, perguntar como é dito, com que recursos lexicais e gramaticais, com que estratégias discursivas, quando e porque é dito.
Diante disso surge a pergunta, com que finalidade se deve analisar um texto?  A de promover indagações; de buscas; ver mais por dentro as engrenagens do funcionamento da linguagem. Ainda, que tipo de textos analisar? Todos, uma vez que não existe uma tipologia ou gênero específico para análise, não importa o tamanho, formato, função. Não importa se são verbais ou não verbais. Todos são objetos de análise e a escolha do texto vai depender das circunstâncias e o propósito de análise.
Considerando os aspectos elencados é possível sugerir para análise textual, as seguintes recomendações: a) que os textos sejam adequados quanto à temática, estrutura linguística, tamanho e a faixa etária do aluno; b) que se remetam a diferentes contextos geográficos e culturais; c) que procedam de campos sociais diferentes; d) que revelem diversidades de gêneros em circulação; e) que sejam representativos de diferentes dialetos regionais e sociais, se são diversificados quanto à sua forma de apresentação, tamanho, grau de complexidade, que preservem a unidade de sentido, indiquem os elementos do contexto de produção.
Que elemento analisar? Tudo é analisável nos textos. Toda a língua em múltiplas dimensões pode está presente no texto. Em qualquer análise, a questão maior é sempre a compreensão do que se diz e de como e para que se diz o que é dito. Daí a pergunta, como analisar textos ou que procedimentos adotar na análise textual. São variados procedimentos, o que vai depender de vários fatores. Como são diversos os procedimentos seria melhor elencar o que se evitar na análise, veja-se:
·         Restringir-se à extrapolação do tema abordado;
·         Reduzir a análise à mera exemplificação de uma unidade linguística;
·         Recorrer à análise para estudo gramatical;
·         Fragmentar o texto, retirando frases e palavras;
·         Reduzir o estudo de léxico à questão de sinonímia e antonímia;
·         Não discriminar aspectos globais do texto;
·         Omitir a finalidade e propósito da análise;
·         Privilegiar as informações explícitas do texto;
·         Concentrar-se em um único modelo de análise;
O primeiro interesse em analisar um texto deve estar focado na apreensão dos aspectos globais do mesmo. O entendimento como um todo, fator que leva a proposição de que a compreensão textual global deve ser o ponto de partida e o ponto de chegada de qualquer análise. Há outros aspetos importantes, tais como, o universo de referência, que o campo social discursivo em que ele se insere,  unidade semântica, que é a ideia central do texto, a progressão temática, a qual se refere à integração das várias partes em um todo, o propósito comunicativo, diz respeito à finalidade do texto, o que se quer dizer? Para que se quer dizer?, os tipos e gêneros textuais que são as categorias dos textos descritivos, narrativos, dissertativos, injuntivos, etc., relevância da informação e a intertextualidade que é a relação com outros textos.
Todos esses aspectos elencados vão constituir uma importante base teórica para se empreender uma atividade de análise da linguagem textual, em todas as suas manifestações concretas. Tudo no texto terá como o fim o global. Lá é que todos os sentidos se justificam. Assim, a análise do texto está pautada em palavras ou outros sinais presentes no texto, tanto na superfície quanto nas entrelinhas. Logo, aquilo que apontamos como dito no texto deve  está respaldado pelo que de fato, lá se encontra.


_________________________________________________________________________________



O PROCESSO DE REFERENCIAÇÃO NA CONSTRUÇÃO E ARTICULAÇÃO DO TEXTO - TEXTO EM CONSTRUÇÃO

Neilton Farias Lins

        O julgamento que se faz daquilo que é elencado como sendo uma realidade, na verdade, não passa de um produto da percepção cultural que se tem sobre essa realidade, percepção esta, alcançada cognitivamente por meio da referenciação. Nessa perspectiva, o processo pelo qual as expressões que fazem referência a alguém ou alguma coisa, ou o objeto que serve como substituo de outro, ao qual tem ligação cognitiva, tal processo é conhecido por referenciação. Esse estudo parte do pressuposto de que existe identidade de referência entre a forma remissiva e seu referente.
        A noção de referência é caracterizada especificamente pela sua amplitude, visto que a mesma pode acontecer no processo da interação por meio de um nome, um sintagma, um fragmento de uma oração, uma oração ou um enunciado completo. Para Blanche-Benveniste(1984), o referente se constrói no desenrolar do texto, modificando-se a cada novo "nome" que se lhe dê ou a cada nova ocorrência do mesmo nome". Nessa perspectiva, é possível inferir que o referente é algo que se constrói e reconstrói no processo interativo.
        O estudo da referência e/ou referenciação mescla-se com o estudo das categorias, uma vez que fazer referência entre seres ou palavra é preciso salientar que nem todas as situações são possíveis. Consideremos que ao falar de um "piano de cauda", um músico faz-lhe referência como instrumento musical, entretanto, o mesmo instrumento em uma situação de mudança residencial será considerado não como um instrumento musical, mas como um móvel muito pesado. Essa linha de pensamento corrobora o argumento de que a realidade é na verdade produto da percepção cultural do sujeito da interação.
        Para Koch (2004) a referência é aquilo que designamos, representamos, sugerimos quando usamos um termo ou criamos uma situação discursiva referencial com essa finalidade. A referida autora diz ainda que, a referência diz respeito, sobretudo, às operações efetuadas pelos sujeitos, à medida que o discurso se desenvolve.
        Logo, é necessário enfatizar que tanto referenciação quanto progressão referencial,  incidem na (re)construção do texto na interação. Nesse aspecto, Koch e Marcuschi (1998) postulam que a textualização do mundo por meio da palavra não é uma mera construção do processo de elaboração de informações é, além disso, um processo de (re)construção do real.
        Nessa perspectiva, é possível deduzir que o sujeito da comunicação é levado, por ocasiões interativas verbais, a executar operações sobre a materialidade linguística que lhe há disponível, fazendo escolhas expressivas para representar as coisas, pessoas e lugares. Logo, compreende-se que o processo de referenciação trata-se das escolhas do sujeito enunciativo em função de um querer dizer. Nisto, tem-se que o processo de referenciação se (re)constrói no próprio processo da interação, o que corrobora o pensamento de Koch(2004) em que, "todo discurso (re)constrói uma representação que opera como um  memória compartilhada".
        O processo de reconstruir o texto cria as chamadas cadeias referenciais. Roncarati (2010, p.20) faz um vasto estudo sobre essa temática e elenca o seguinte; "a construção de cadeias referenciais, uma das habilidades que integram a metaconsciência textual, através da qual podemos descobrir, passo a passo, por que meios um mesmo referente vai sendo retomado ou deslocado por outro referente". Alguns problemas de interpretação de um texto, tais como, o leitor/ouvinte não conseguir captar as inferências que o escritor/falante podem ser resolvidos ao elaborar as cadeias referenciais.
        Koch(2004, p.67) diz que o processo de referenciações textuais usa como estratégias,  primeiro, "o uso de pronome, segundo "uso de expressões nominais definidas" e por último, mas não menos importante o "uso de expressões nominais indefinidas", no que se refere a primeira opção,  a referenciação se dá por meios de formas pronominais, conhecido na Linguística Textual como anáfora e catáfora. Quanto à segunda estratégia Koch (1994, p.45) diz que esse grupo é definido pela introdução do artigo definido, o qual exercem funções remissivas. Quanto à última trata-se do uso dos artigos indefinidos e/ou outros nomes tais como pronomes, advérbios, dentre outras palavras que expressem uma ideia de imprecisão.
        Portanto, nessa perspectiva, o processo de referenciação é um domínio da linguagem de assinalar ou identificar entidades no discurso/fala/texto, isto é, pessoas, coisas, animais, lugares, eventos, fatos, ações, propriedades, predicações, etc.  Logo, é possível inferir que os sistemas de referência não se encontram no estado de prontidão, mas no contínuo processo de construção. Seja uma palavra, uma frase falada ou escrita no cotidiano, inserida num jornal, inscrita num romance, ou em outra espécie de gênero textual, dificilmente, seria a mesma palavra ou o mesmo enunciado, nos diferentes textos que circulam socialmente, uma vez que cada espaços social desses possuem funções enunciativas distintas.

Referências
BLANCHE-BENVENISTE, Claire. La dénomination dans lê francais parlé . In: Recherches sur lê français parlé 6 , Université de Provence, 1984.

KOCH, I. G. V. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

RONCARATI, Cláudia. As cadeias do texto: Construindo sentidos. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
                   

AMBIGUIDADE


AMBIGUIDADE


        É a possibilidade de atribuir mais de uma interpretação significativa de um texto em uma mesma sentença, em um mesmo contexto. Isso intencionalmente ou sem a devida intenção. As sentenças potencialmente ambíguas resultam interpretações indesejadas.
        Na escrita ambiguidade se dá por diversas causas, mas três são as principais.

a.       A ambiguidade causada pelos muitos significados que uma palavra pode receber.
    Peguei uma piranha na pesca de ontem.

    b.      Causada por anáfora ou catáfora de múltiplas interpretações.
      O cachorro mordeu o homem na sua casa.

      c.       Ambiguidade de múltiplas interpretações estruturais.
        Meu avô cuidou da planta doente.


        Resolvendo Ambiguidade

        •       A ambiguidade causada pelos muitos significados que uma palavra pode receber. No exemplo citado “Peguei uma piranha na pesca de ontem”, apresenta uma interpretação indesejada, ou até desejada, isso, devido o uso da palavra piranha, que pode ser atribuído com outro sentido que não o de peixe, logo, é atribuído ao verbopegar outro significado que não o de pescar. Esse tipo de problema é sanado com a substituição da referida palavra por um sinônimo.

        •          A ambiguidade causada por anáfora ou catáfora tem como a causa básica a propriedade que alguns pronomes apresenta nas retomadas ou em adiantar seus referentes do contexto. Como solução viável é possível propor a eliminação de tais pronomes ou reposicioná-lo de forma que não seja dada margem para uma segunda compreensão.

        •          Ambiguidade cuja consequência se dá pela ordem estrutural no que se refere à concordância e regência. A melhor solução ainda é a leitura. Leia-se pois, refaça-se a sentença com dúbia interpretação.

                      Esse tipo de ambiguidade faz parte do texto humorístico, muito usado por escritores tais como, Millôr e César Cardoso.

        1.       Millôr:
        Comerciante – se alimentar em frente
        Comichão – comer terra
        Padecimento – uma pá com cimento
        Penalizar – alisar plumas
        Revolta – volta de criminoso
        Sobejo – apenas ósculo

        2.       Cardoso:
        Caatinga – cheeiro ruim
        Calmante – amante calmo
        Empapar – encharcar o Papa
        Humilhar – sacanear alguém por uma milha
        Imoral – que não tem onde morar
        Matriz – atriz ruim
        Megaton – gato usado como cobaia de experiência nuclear
        Rodado – Dado redondo
        Ulular – saudar ex-presidente Lula
        Vermute – espécie de mamute alcoólatra. 

        ESTUDOS DOS TEMPOS VERBAIS

        ESTUDOS DOS TEMPOS VERBAIS

        Breve estudo de tempos verbais


        Existem três formas de marcar o tempo verbal em português. Passado, presente e futuro. Considerando o Momento da Fala(MF) temos a seguinte situação:



        Há três modos de marcação do Presente:

        Presente Pontual

        Ação acontece no momento da fala. Geralmente o verbo principal recebe a flexão:

        • ·      Estudo a matéria agora.


        Presente durativo ou presente contínuo

        Usa-se um verbo auxiliar flexionado no presente, seguido do verbo principal no gerúndio.

        • ·      Eu estou estudando a matéria.

        Na segunda forma tem-se a impressão que a ação se repete diversas vezes e continua se repetindo no momento da fala. Na primeira, tem-se a impressão de que não estaríamos falando exatamente do tempo hoje se não houvesse a expressão “agora”.

        Presente omnitemporal = eterno

        Marca uma ação vai acontecer para sempre.

        • ·      A terra gira em torno do sol.

        Pretérito do presente (pretérito perfeito)

        Anterior a um momento de referência do presente.

        • ·      Estudei a matéria.

        Futuro do presente

        Posterior ao presente. Ação que teve início no passado e concluíram no passado.

        • ·      Estudarei a matéria.



        Pretérito Imperfeito

        Acontecimento iniciado, mas não concluído.

        • ·         Eu estudava a matéria.

        Pretérito mais que perfeito.

        Anterior ao passado. Ação iniciada no passado, mas vista em relação à outra referência do passado.

        • ·         Eu estudei a matéria enquanto a menina chegara.
                             Pret. Imperfeito.                                       Pret. + Q Perfeito


        Futuro do pretérito

        Posterior ao pretérito. Ação acontece em um tempo depois de passado.

        • ·         Estudei a matéria porque ela chegaria.
                            Pret. perfeito.                       Futuro do Pretérito






        Presente do Futuro
        Acontece concomitante ao futuro
        • ·         No mês que vem, eu estudarei a matéria

        Pretérito do Futuro
        Acontece antes do Futuro
        • ·         No mês que vem, terei estudado a matéria

        Futuro do Futuro
        Acontece posterior ao futuro.
        • ·         Estudarei a matéria depois que a menina chegar.

        O futuro é feito da seguinte forma:
        1. a.       Verbo principal flexionado; Estudarei a matéria.
        2. b.      Expressões indicadoras de futuro + verbo principal no infinitivo – Quando eu estudar.
        3. c.       Verbo auxiliar + verbo principal infinitivo – Eu vou estudar a matéria.